Uma vasta documentação foi produzida por órgãos criados pela repressão, entre 1964 e 1985, quando o Brasil viveu sob um regime de exceção, durante o qual um vasto aparato repressor monitorava movimentos sociais – sindicais, estudantis e outros –, políticos e cidadãos simplesmente suspeitos de oposição à ditadura militar.
São documentos produzidos pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), pelo Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) e os serviços de censura à imprensa e às artes. Vários desses documentos, entre eles o Ato Institucional nº 5 (AI-5), estão expostos desde ontem (4), no Rio de Janeiro, no Arquivo Nacional.
Uma parte desta documentação, assim como o que foi produzido por veículos da imprensa e pelas organizações que se dedicavam a combater a ditadura, estará na exposição Registros de uma Guerra Surda, inaugurada na última sexta-feira. O dia anterior marcou os 47 anos do início do regime militar. A mostra ficará aberta a partir de amanhã até 26 de agosto.
– A exposição se destina a qualquer pessoa interessada na história recente do Brasil, em especial o período da ditadura militar, que tem repercussão até os dias de hoje, mas, infelizmente, não é tão discutido como deveria ser, inclusive nas escolas – afirma a cientista política Viviane Gouvea, uma das curadoras da mostra, juntamente com uma equipe de pesquisadores do Arquivo Nacional.
Para Viviane, há aspectos do regime militar que ainda são vistos como tabu e a intenção da curadoria é a de incentivar uma reflexão sobre o período.
– A exposição mostra como o sistema de monitoramento penetrava no dia a dia dos indivíduos, uma coisa que poucos brasileiros hoje têm noção de como acontecia. A gente espera que a exposição aponte para possibilidades de pesquisa neste acervo, que é muito vasto, mas que ainda tem muita coisa para ser desvendada – afirma.
A mostra está dividida em cinco módulos temáticos. O primeiro trata de como se institucionalizou o regime de exceção, o que abrange desde o golpe de 1964 ao fechamento do Congresso Nacional, passando pelas cassações de políticos, a estruturação dos serviços secretos e a emissão dos atos institucionais que, pouco a pouco, foram cerceando as liberdades no país. Nesse módulo, o documento de maior destaque é o AI-5, que inaugurou o período de maior arbitrariedade da ditadura e vai estar exposto pela primeira vez numa vitrine.
O segundo módulo – Da Repressão à Reação – mostra as greves e passeatas e a repressão a elas, as prisões de manifestantes e militantes, as organizações de luta armada, os sequestros, os atentados, a Guerrilha do Araguaia e a censura às artes e à imprensa.
A propaganda que os governos militares faziam de si mesmos é o tema do terceiro módulo – A Face Pública do Regime. Nele, o visitante pode observar documentos e fotos que retratam o patriotismo exacerbado em datas cívicas, o chamado “milagre econômico” e o apoio de organizações civis ao regime.
O quarto módulo – O Começo do Fim – trata do processo de abertura gradual do regime e de sua relutância em abrir espaço para a democracia, do crescimento do número de greves e passeatas, da imprensa alternativa, do movimento pela anistia, culminando com o movimento Diretas Já.
Por fim, o quinto módulo detalha o projeto Memórias Reveladas, criado pelo governo federal, sob a coordenação do Arquivo Nacional, e que serviu de base para a realização da exposição. Polo difusor de informações contidas nos documentos sobre as lutas políticas no Brasil, nas décadas de 60 a 80, o Memórias Reveladas reúne cerca de 400 mil registros documentais, de instituições públicas e privadas, num banco de dados que pode ser acessado no site do projeto.
Ainda como parte da exposição, será exibida uma mostra de filmes, cuja programação completa está disponível no site do Arquivo Nacional. São filmes de arquivo, curta-metragens, documentários e entrevistas, que serão exibidos às segundas e quartas-feiras, e longa-metragens, às quintas-feiras. O primeiro longa, na sessão do dia 7 de abril, é o filme Hercules 56, do cineasta Silvio Da-Rin.
Visitas guiadas serão oferecidas aos alunos das redes estadual e municipal do Rio. De acordo com os curadores, a exposição seguirá para Brasília no final do ano e o Arquivo Nacional está em negociações para que a mostra seja levada a outras capitais brasileiras.
(AgênciaBrasil)
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