terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Rádio como palanque eleitoral


*João Vicente Alvarenga
O ataque dos perdedores aos vencedores parece fazer parte do jogo democrático, mas deve-se tomar todos os cuidados para não chegar ao extremo do ridículo ou da comédia. 
Crivela falou sobre um terceiro turno porque as eleições de segundo turno foram fraudadas. Ele, à época, entrou com um pedido, junto ao TRE, solicitando a anulação do pleito que consagrou a vitória de Pezão nas urnas.
Crivela e Garotinho devem dar-se por satisfeitos por terem sido derrotados por uma diferença razoavelmente pequena de votos. Certamente que o que mais incomoda a dupla derrotada é o fato de Pezão ter conquistado votos de 73 municípios, que em termos percentuais, são 55,78% dos votos do Estado; enquanto Crivela conquistou votos de 19 municípios, em termos percentuais, 44,22% dos votos do Estado.
Para quem não desiste das ambiciosas futuras pretensões políticas, como ganhar nas próximas eleições para Governador ou não perder a Prefeitura de Campos em 2016, e, ao que tudo indica, estará se preparando tambémm para uma disputa à presidência da República, a palavra pode é introducir velho.
No momento, o quadro é bastante adverso. Mas em política tudo pode mudar da noite pro dia, e quem sabe não veremos Garotinho saindo vitorioso nas próximas eleições para o governo do Estado? E bem articulado para uma disputa à presidência da República?
No entanto, no momento, o que temos é a figura de um líder patético, em declínio, que perde sua poderosa influência política na maioria dos municípios do seu Estado, experimentando o sabor da derrota, o que o deixa na defensiva contra tudo e contra todos, exibindo uma performance, ora a de franco atirador, sem alvo definido; ora com alvos bem definidos: a Rede Globo de Televisão e, como não poderia deixar de ser, o PMDB de Pezão, a bola da vez.
Vejam o tom de denuncismo nos títulos por tras dos temas das matérias publicadas em seu blog, terminadas as eleições: situação insustentável do Comandante da PM; PMDB não perde tempo em pressionar Dilma; Crivela vai lutar na justiça para cassação de Pezão; a eleição mais manipulada da história; vejam como a Globo manipula as notícias contra Crivela; a verdade vai derrotar a mentira do PMDB.
Como se vê, convivemos com um homem dotado de poderes extraordinários: ele é capaz de detectar atos "ilícitos", fazer um julgamento e punir seus autores, indiscriminadamente; quer usar de sua retórica, para alimentar seu populismo ilusionista, para lançar suspeitas sobre a lisura na apuração dos votos dessa eleição; ele se sente capaz de denunciar e enfrentar a Globo. Por fim, Garotinho é a encarnação da verdade, a epifania de uma divindade premonitória. O restante é mentira.
Não é fácil perder uma eleição, ainda mais quando o derrotado é alguém vaidoso, ambicioso, arrogante e pretensioso.
O mais dramático de tudo isso é que o Deputado Garotinho termina seu mandato na Câmara dos Deputados. Por um bom tempo ele fica distante das manobras políticas em Brasília, sobrando tempo suficiente para comandar o jogo político na região e ao mesmo tempo resguardar seu futuro, para caminhar folgado rumo a algum nicho de poder.
A partir de janeiro, ele deixa o cargo de Deputado Federal, restando o rádio, veículo de comunicação de massas, para manipular e guiar as mentes inadvertidas.
A grande massa da população ainda se deixa iludir pela retórica dos discursos populistas. Garotinho é mestre nisso. Com esse poderoso instrumento a sua disposição, ele garante sua propaganda eleitoral até às próximas eleições.
O nicho poderá ser ou o Governo do Estado ou Presidência da República.

*João Vicente Alvarenga Professor Mestre em Filosofia, integrante da Equipe de Projetos Especiais da SMEC.

(imagem postada pelo blog)