segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Uma resposta necessária ao colunista Merval Pereira

Merval Pereira
Merval Pereira ao lado de José Serra, um dos suspeitos de liderar o maior esquema de corrupção já visto no país
Gilberto de Souza
É importante ler com atenção o que diz o colunista do diário conservador carioca O Globo e imortal da Academia Brasileira de Letras Merval Pereiraquando ele se pronuncia sobre A Privataria Tucana, livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Da mesma forma como o governo dos Estados Unidos e suas agências de informação apreciam o trabalho do apresentador de TV William Waack, na defesa de seus interesses em solo brasileiro, também a direita aplaude seu principal porta-voz. Ele realmente acredita que o livro “é um sucesso de propaganda política do chamado marketing viral, utilizando-se dos novos meios de comunicação”. Até aí, uma simples profissão de fé, daquelas próprias do náufrago agarrado à prancha, diante da barbatana que se ergue na linha d’água. A obra é um sucesso, sim, mas pelo simples fato de que toda sujeira varrida para debaixo do tapete, uma hora vem às claras. E quando isso acontece, as consequências são imprevisíveis. O “marketing viral” e os “novos meios de comunicação” ficam por conta do afogado nos fatos desvelados pela nova realidade brasileira na área da Comunicação Social: o poder do Partido da Imprensa Golpista (PIG) sofreu seu pior abalo e o risco de desmoronamento é iminente.
Pereira erra feio, no entanto, ainda no primeiro parágrafo do texto publicado nos estertores da irresponsabilidade de tentar manter em silêncio um fato que irá repercutir ao longo dos próximos anos. Atribui aos “blogueiros chapa-branca” o tsunami de notícias que varre as redes sociais nas últimas semanas. Mas, creio, o faz de propósito. Fica difícil admitir a existência de Jornalismo independente no país que ele imagina dominado pelas cinco famílias. Qual capitão-do-mato de uma delas, Pereira se dispõe a defender, do alto de seu salário, o que denomina ‘imprensa tradicional’ quando fala, na realidade, dos conglomerados golpistas ora cercados pelablogosfera, na planície onde ocorre a última batalha entre a verdadeira Opinião Pública desse país e os gigantes da mídia opressora. Para o colunista e para os donos das mãos que o alimentam, o novo Jornalismo no Brasil somente existe por conseguir o patrocínio do Estado. Novamente, não é bem assim, mas parabéns àqueles que conseguem tirar alguns trocados dessa matilha que abocanha a maior parte de tudo o que os setores estatal e privado investem em publicidade. Ela é formada, exatamente, pelas famílias que pagam aos seus servis e até ‘imortais’ funcionários para a defesa de objetivos inconfessáveis.
O que o colunista não percebe – e se o faz, guarda silêncio – é a existência de uma nova classe de jornais no país, na qual se encontra o Correio do Brasil. Não é blog de ninguém, nem vive à custa da propaganda oficial ou recebe dinheiro dos grandes conglomerados econômicos para a defesa dos interesses estrangeiros no país. Sequer mantém entre seus jornalistas um pelotão de lambe-botas, pronto a adular os poderosos da direita ou a bater palmas para a esquerda festiva. Trata-se de um jornal que leva a sério seu maior patrimônio: os mais de 3 milhões de leitores que buscam, no diário, nada além da verdade. Se tucanos roubam, o CdB denuncia. Se petistas roubam, o CdB denuncia também. Se os interesses nacionais são feridos, oCdB se levanta. Se a imprensa golpista mente, o CdB revela quem são os mentirosos. Simples assim, pois aqui exercemos aquele velho Jornalismo, que ouve todas as partes envolvidas nos fatos e toma partido apenas do leitor. Se a Opinião do Correio do Brasil é francamente favorável ao Socialismo é porque opinião cada um tem a sua, e defendemos com nossas vidas o direito de todos poderem dizer o que pensam.
Mas mentir não. Com a mentira é diferente. Não há trégua para aqueles que querem iludir a boa fé das pessoas com afirmações como esta que Pereira consigna em seu texto: “A chamada ‘grande imprensa’, por ter mais responsabilidade que os blogueiros ditos independentes, mas que, na maioria, são sustentados pela verba oficial e fazem propaganda política, demorou mais a entrar no assunto, ou simplesmente não entrará, por que precisava analisar com tranqüilidade o livro para verificar se ele realmente acrescenta dados novos às denúncias sobre as privatizações, e se tem provas”. Sabemos que a história não é bem essa aí que o cidadão escreveu. As cinco famílias precisaram combinar entre si o que diriam, diante da estocada precisa de Privataria Tucana no núcleo podre de uma banda do poder, ainda muito influente no país. Os envolvidos na trama não explicam nada, como tentam desviar o foco do leitor para o fato principal que é a roubalheira perpetrada contra o Erário, porque foram flagrados de calças na mão, como traduz o jargão dos quartéis.
Numa tentativa pueril de desmerecer o esforço de reportagem contido em A Privataria Tucana, Merval questiona: “Que trapaceiro registra seus trambiques em cartórios?”. A resposta é evidente, até para o mais gentil lúmpen com o qual ele possa conviver. As personagens encerradas no assalto aos cofres públicos e reveladas nas páginas do livro tentaram, ainda bem que sem sucesso, disfarçar o que a presidenta Dilma Rousseff, placidamente, classifica de “mal feito”.
Ao usar os serviços de empresas especializadas na lavagem de dinheiro e na receptação de propinas, todos aqueles citados no livro-reportagem precisam, sim, explicar-se em juízo. Aí incluídos os grãs-tucano José Serra e Fernando Henrique Cardoso. Não será com uma conversinha fiada como a do artigo de Merval Pereira que os patrões do colunista estarão livres de um caudaloso processo político, cível e criminal, nas cortes brasileiras. Por mais que rosnem os cães amestrados do capital internacional, que advogados caríssimos exerçam o Jus ‘sperniandi’ e as matracas em minoria no Congresso tentem barrar a CPI da Privataria, nós aqui no Correio do Brasil seguiremos, dia após dia, no cumprimento do dever para com nossos leitores. Se nada mais restasse, apenas os fatos impressos nas páginas doCdB já serão suficientes para manter acesa a chama da Justiça.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.

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