sábado, 3 de dezembro de 2011

Arcinélio Caldas, com a palavra:

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Amigos,
            O trem já está pronto com destino ao Bambuzal. Veem-se da janela lenços brancos agitados por mãos amigas e lágrimas contidas em feições que aguardam a oportunidade de estar juntas.
            Os que puderam aderir ao comboio nesta escala da viagem, embarquem nas estações de São João da Barra (Grussaí, Atafona, Ilha da Convivência), Campos dos Goytacazes, Niterói, Rio de Janeiro e gares pelo mundo afora, onde exista essa raça denominada dijaojente.
            Vamos comemorar momentos alegres e felizes de nossas vidas, relembrar um passado puro, forjado nas referências familiares e lapidado pelo coleguismo, amizades da infância e adolescência.
            O mote do III encontro dos dijas, bem lembrado pelo primo Paulo Ney, será a comemoração da festa de aniversário de nascimento do Menino do Natal, o fim de mais um ano e as alvíssaras de outro que chega com promessas de muita saúde, prosperidade e  amor. Será por nós recebido com juras, troca de presentes, empatia, afeto e amizade. 
            Já estou concentrado no amanhã. Logo estaremos juntos. Aos que ficaram em suas bases, também fica a certeza de que a oportunidade se renovará no verão que se aproxima. Nossa volta será marcada pela data da nova viagem do grupo. Esperem o trem resignadamente.
            Aproveito a oportunidade e encaminho um conto do projeto Feito Histórico, que estou a desenvolver e foi publicado hoje na Revista Atual, lançada virtualmente no Teatro Trianon.
            Abraço a todos.

                                                            Arcinélio.
                          
                     
                FEITO HISTÓRICO

Arcinélio Caldas
(08/11/2011)
                                               O menino José, aos oito de novembro de 1853, colocado na roda dos expostos da Santa Casa de Misericórdia de Campos dos Goytacazes, mais como fita de seu pai, cônego doutor João Carlos Monteiro, que deixou de reconhecê-lo por óbvios motivos, iniciou ao lado da mãe, Justina Maria do Espírito Santo, sua incrível trajetória de vida. Marcado pelo desprezo do pai que, embora permitisse sua presença na casa paroquial a despeito de toda fofoca, não lhe reconhecia a paternidade e ficava incomodado com a sua semelhança física cada vez mais crescente, José foi morar um tempo na fazenda do pároco, para as bandas da Lagoa de Cima. Lá, ao lado da mãe, vendo o sofrimento dos escravos, precocemente ansiou por Justiça.
                                               O garoto cresceu e para a cidade voltou, a fim de continuar os estudos. O pai, mantendo a distância e desinteresse pelo seu convívio, pagava as despesas, mas exigia da mãe, que realizasse outras tarefas para bancar as despesas do filho. Justina, escrava alforriada, linda mulata de tez acobreada, cor de lombo de porco assado, começou a vender verduras de casa em casa e por sua simpatia logo abriu uma quitanda, com auxílio do vigário, para prover os estudos de José.
                                               Passado pouco tempo, o jovem percebera a covardia a que submetiam os negros e, do alpendre da casa de Lagoa de Cima, onde se encontrava de férias, após um corretivo no tronco, aplicado pelo administrador do pai ao escravo Adão, encenou uma revolta atirando-se ao chão. Na queda o sangue escorreu pela sua face. A mãe correu a acudi-lo. Ficou a revolta que o levou a pedir ajuda à mãe para morar no Rio de Janeiro, onde já ouvira em conversas do pai com viajantes e amigos da maçonaria, que eram grandes as possibilidades de estudar e trabalhar.
                                               No Rio, até sua formatura em farmácia, sob as expensas do pai, José fez-se homem e foi contemporâneo de Rui Barbosa, Castro Alves, Joaquim Nabuco, Campos Sales, Luiz Gama, Paula Ney, Coelho Neto e do inseparável amigo Olavo Bilac, protagonista junto com ele de grandes aventuras. No campo fértil da política, poesia e comunicação social, José pautou sua vida por ações vanguardistas em defesa da República e da raça negra. Ajustou à sua vocação política os dotes de jornalista nato. Verberou seu talento de orador incomparável à multidão de ouvintes que, seca por mudanças ainda que tardias, respondeu com entusiasmo aos seus eloquentes apelos de libertação das senzalas.
                                               Hoje, José dorme no panteão dos heróis em sua terra natal, forjada entre a restinga, o brejo e a serra do mar, pelos nativos, patrícios portugueses e negros beneficiados pela sua luta. O saudoso Ministro da Educação, Professor Roberto Lyra, dotado de invulgar brasilidade, fez correr aos quatro cantos do país, a impossibilidade de se negar que, ao seduzir com sua verve incomensurável a alma de uma princesa para a assinatura da Lei Áurea, aos treze dias de maio de 1888, José foi o principal responsável pelas ações da alforria de sua raça e espera como nós, à luz do fogo de lenha, da música do Congo e das danças do jongo, maior reconhecimento por sua obra. Merece, ao menos, na Praça Galvão Baptista, esquina da Avenida Alberto Torres com Rua Barão de Miracema, conhecida como Fatia de Queijo, uma vistosa placa do Poder Público, identificando as estátuas representativas do momento vivido pelo nosso conterrâneo José Carlos do Patrocínio, que passou para a história como ícone da libertação da escravatura.
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                                               Hoje, José dorme no panteão dos heróis em sua terra natal, forjada entre a restinga, o brejo e a serra do mar, pelos nativos, patrícios portugueses e negros beneficiados pela sua luta. O saudoso Ministro da Educação, Professor Roberto Lyra, dotado de invulgar brasilidade, fez correr aos quatro cantos do país, a impossibilidade de se negar que, ao seduzir com sua verve incomensurável a alma de uma princesa para a assinatura da Lei Áurea, aos treze dias de maio de 1888, José foi o principal responsável pelas ações da alforria de sua raça e espera como nós, à luz do fogo de lenha, da música do Congo e das danças do jongo, maior reconhecimento por sua obra. Merece, ao menos, na Praça Galvão Baptista, esquina da Avenida Alberto Torres com Rua Barão de Miracema, conhecida como Fatia de Queijo, uma vistosa placa do Poder Público, identificando as estátuas representativas do momento vivido pelo nosso conterrâneo José Carlos do Patrocínio, que passou para a história como ícone da libertação da escravatura. 

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