O passado é
um lago sereno,
Profundo e
perigoso.
Você que
caminha por suas margens,
Não tente
resgatar
As alegrias
e as dores
Que
submergiram nessas águas.
Toma
cuidado, o céu sem nuvens traz maus presságios
Toma seu
barco, ou uma nuvem,
E flutue
como o Arcanjo Gabriel
Acima do
lodo espesso do fundo
- que você
não vê
Mas pode
adivinhar.
Não
mergulhe, você está sem escafandro,
sem roupa de
anjo, sem uniforme de astronauta
Não sabe
mergulhar nessas águas.
Não banque o
herói de cinema!
Aqui não há
projetores nem salas de espera,
Nem uma
equipe de apoio e dublês.
Pode ser
frio, você trouxe roupas de lã e titânio?
Pode haver
liquens, sereias, o esqueleto
Dos
companheiros de Ulisses,
Uma cabeça
da hidra fumegante
Ou um pedaço
de Cila.
Vórtices de
luz, monstros macroscópicos,
Olhos
imensos sem rosto
Celacantos
que odeiam insensatos
Lulas
sugando cérebros de prêmios Nobel
Dragões que
se alimentam de pérolas.
Pode haver
um portal
Para um
mundo
Mágico e
sombrio
Que
Sherazade não conhecia,
Onde
cimérios empunham espadas
Crianças sem
rosto brincam no espelho
Fantasmas
vestem terno e gravata
E o czar da
Rússia voltou a São Petersburgo
Disposto a
esmagar os bolcheviques.
Cuidado: o
espelho d’água, que reflete
O sol e a
lua , tem uma passagem
Secreta –
você perdeu a chave!
Você não tem
a cabala
Dos
arabescos de algas, nas águas profundas.
-- Das águas
que um peixe falo
penetrou no oceano
Da
descendência.
Passeie
pelas suas margens,
Sem tropeçar
nos cogumelos de fogo
Que agitam a
grama fumegante,
Respire o ar
puro desse jardim:
Tire sua
máscara de cidadão pacato
Jogue fora
seus cartões de crédito
E os títulos
honoris causa, graus de PHD e MBA.
Volta pra
casa,
Pegue o
metrô da desesperança.
Esqueça os
sonhos e o desejo,
Volta para
casa, sua toca de ouro e aconchego,
Beija sua
mulher e seus filhos, afague o cachorro
Que está
latindo estranho (pressente alguma coisa?)
Amanhã você
tem uma agenda lotada,
No
escritório; tem que consertar o carro
Pagar o
cartão de crédito e marcar hora no
Restaurante,
para encontrar o chefe
Da
multinacional que financia uma fundação
Que ajuda
meninos siberianos.
Faz de conta
que foi tudo um sonho
Você estava
na sua cama macia
O Lago a
Lua, sua viagem
Pelo fosso
da memória
Seu
desencanto – foi tudo um mal estar
Estresse de
final de ano.
Amanhã tudo
volta ao normal
Os amigos
vão rir do seu sonho
E te admirar
de tanta imaginação.
De noite, em
casa, ponha uma música forte, popular.
Vista sua melhor
roupa, vai ver a vida, beber um vinho chileno.
Pra que
lembrar de sonhos e paixões passadas?
Sérgio Escovedo ---- 2011 -
Um comentário:
feliz 2012 joca !!!!!cuidado com figado abraços, marco soares..........
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