terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Como enfrentar o eterno dilema entre dois aspectos tão importantes na prática museal – PROTEÇÃO vsEXPOSIÇÃO?



É mais do que sabido que uma das missões dos espaços museais é favorecer ao público diferentes formas de apropriação de seu acervo – e expô-lo é um pré-requisito para isso. Mas também sabem os profissionais que atuam na área museal que a peça exposta é mais sujeita a riscos, por ficar menos protegida. “Ou isso, ou aquilo”, poetizava Cecília Meireles...

Também os adultos ficam às vezes na dúvida sobre o que oportunizam, ou não, às crianças com as quais convivem – tanto em casa, quanto nos espaços coletivos. Recentemente presenciei uma cena no Parque Nacional do Iguaçu/PR que penso que vale para nossa reflexão sobre proteger/expor.

No Parque há vários mirantes. Em um deles, a pessoa vai andando mais e mais sobre as águas, e esguichos da queda se transformam numa cortina de gotículas. Assim sendo, ali naquele ponto a regra é se molhar! Crianças pulam alegres, riem alto, passam as mãos nos braços molhados, esfregam os olhos, abrem a boca (adultos também, mas em geral são mais comedidos...). Uma menina à minha frente, aparentando ter 9, 10 anos, repetia: “É massa! É massa!” – e me olhava gostando de perceber minha concordância. De repente, observo outra família. Compraram capas de chuva e embrulharam cuidadosamente a bolsa, a máquina fotográfica e, sobretudo, a filha de cerca de 4 anos. Mais perto de mim, ouço a mãe comentar para a criança tampar os ouvidos com as duas mãos para não entrar água. Começam a avançar na ponte/passarela. O pai, preocupado, prefere pegar a menina no colo para maior segurança. A mãe recomenda boca fechada, “porque a água é suja”. A criança, devidamente “encapada”, está com as duas mãos nos ouvidos e a boca trincada com força. Ao primeiro respingo de água nos olhos, aperta-os e os esfrega. Imediatamente o pai recomenda que ela encoste a cabeça no seu ombro e esconda o rosto, fechando os olhos (!).

Como será para essa criança a memória do Parque Nacional do Iguaçu, com sua visita que exclui a visão das águas Eo som das quedas E a sensação do corpo molhado pelo vapor multidirecional E a temperatura e sabor da água na boca... O que sobrou para ela, gente?!

Essas e tantas outras reflexões – umas mais teóricas, outras de cunho mais cotidiano, mas sempre envolvendo a tríade equipamento cultural, educação e infância – são escritas por mim no BLOG Repensando Museus – hoje com 119 postagens, 162 seguidores e mais de 21440 acessos: WWW.repensandomuseus.blogspot.com

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Maria Isabel Leite –Doutora em Educação (UNICAMP), com Pós-Doutorado em Arte-Educação, na área de Educação Museal (RoehamptonUniversity/Londres).

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