domingo, 25 de dezembro de 2011

Uma honra postar aqui "Retorno", do Mestre Sérgio Escovedo




Hervé jamais criticava as pessoas diretamente, não discutia, não
discriminava. Não deixava de agir como dono do jornal,
diretor-proprietário, como se dizia na época, mas ele sabia no fundo
que aquela energia jovem estava transformando seu jornal na maior
usina de idéias de Campos. Era o jornal mais respeitado e mais lido .
Os demais eram o Monitor Casmpista, com Oswaldo Lima, que era muito
amigo de Hervé, mas um jornalista mais conservador, parecia bem mais
velho do que era, e se dedicava principalmente a seus artigos e uma
coluna. O Monitor era anódino, não tinha opinião. A Notícia,
surpreendentemente, parecia um jornal de oposição. Hervé fazia
jornal ismo de alto níverl. Na época, Vivaldo Belido dirrigia A Cidade,
totalmente dominado por Alair Ferreira, um jornaleco sem estilo,
vulgar, que estampava fotos enormes de Alair e não tinha nenhum peso
na mídia. A Notícia era formadora de opinião, muito antes que esse
conceito fosse discutido. E o jornal era bem diagramado, moderno. Nos
espelhávamos, claro, no Jornal do Brasil - a melhor diagramação de
jornal do mundo, na época, citado na revista Graphys - a bíblia dos
designers, cartunistas e programadores visuais em geral. Mas não
imitávamos. As soluções eram adequadas aos nossos pequenos e parcos
recursos: um impresdsora antiga, em preto e branco, títilosd montados
na caixa, linotipos e velhas máquinas de escrever. Na época o telefone
não era tão importante. Lugar de jornalista era na rua e acho que
havia só umas duas ou três linhas, uma delas com extensão para a casa
de Hervé, no mesmo prédio, no segundo andar. Hervé era funcionário
público, coletor em Goitacazes. Era uma sinecura, mas ele trabalhava
lá várias vezes por semana. Ia ao Rio frequentemente. Ele tinha plena
consciência de que fazia um jornalismo de interior e se orgulhava
disso. A Notícia era bem local, mas a forma de abordar os problemas
era muito diferente de hoje. Os colunistas eram um quadro importante
no jornal. Além do proóprio Hervé, cujos artigos eram esperados com
ansiedade - e escrevia bem, era culto mas não esnobe, tinha um estilo
muito agradável e moderno, havia colunas de humor- de José Cunha Filho
- e Tia Ciata, que respondia a perguntas bobas de pessoas ou supostas
pessoas com problemas cnjugais. Era quase sempre iuma criação coletiva
e nos esbaldávamos de rir com as respostas. José Cunha era muito
popular e escrevia bem. A partir de 1969, estreou o Sergei - o apelido
que me foi dado no teatro, por que me acharam "muioto comunista" e ora
atribuíam Sergei a Eisenstein, a Maiakovski (o que seria uma honra
imerecida) ou ao general russo que ocupou Berlim na Segunda Guerra.
Engraçado que quando fui preso os militares estavam convencidos de que
era a última hipótese, um perigoso comunista - eu, um garoto de 20
anos, que só queria escrever poesia, fazer teatro e beber com os
amigos. Minha militância foi mínima naquela época ( isso fica para um
próximo capítulo em que entram Ivald Granato, César Ronald e outros).
A repercussão das colunas era fantástica. A opinião de Campos era A
Notícia. Certa vez escrevi uma cronica em linguagem cifrada falando
mal de Maria Thereza Venâncio e ela cortou minha bolsas de estudos no
mesmo dia;( Hervé passou a pagar - este é outro capítulo, de meu
relacionamento pessoal com ele e família). de outra vez, escrevi que
ia para um Congresso da Fome no Uruguai - par a sacanear os militares,
o pra frente Brail, e muita gente me perguntou na rua se eu realmente
ia viajar. O jornal era quase uma criação coletiva, com destaque para
Hervé, Manuel Luiz, Churchill, Sergei, José Cunha e... PrataTavares
era a âncora do jornal. Aluysio Barbosa, mais velho, não participava
de noso grupo.


Mensagem original
De: Sergio Escovedo
Para: sl.escovedo@bol.com.br
Assunto: Retorno
Enviada: 17/12/2011 20:32

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