sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Movimento sob a ótica de Jose Ronaldo Saad

Qual seria "a fagulha deflagadora deste processo"?

Jose Ronaldo Saad
O movimento cidadão que a população vem promovendo nos últimos dias tem suscitado, por parte das instituições brasileiras, variadas interpretações sobre o seu significado.
Ora dizem que será um protesto contra o poder Executivo, ora contra o Legislativo. Enfim, contra os políticos em geral. Quem sabe, não seria também contra o Judiciário, que se move debilmente em defesa dos direitos fundamentais do indivíduo. Mas, se limitar a isso, seria nada mais que a constatação do “óbvio ululante”, nas palavras de Nelson Rodrigues.
Não se tem visto, lamentavelmente, nenhuma análise mais profunda sobre o cerne da questão, a origem, a fagulha deflagadora deste processo. Pois se não há líderes ostensivos, se não existe um comando identificável, se não aparece o maestro que conduz essa orquestra, que mesmo assim permanece tão afinada e harmônica, a ponto de reverberar em todos os cantos do país, parece que caberia uma indagação nesse sentido.
Muitos se detiveram, longamente, em deplorar a ocorrência do vandalismo, que no caso tem sido não mais que incidental, pontual e irrelevante. Vandalismo sempre existiu, ladrões sempre existirão. Destacar essas execeções é perder o foco sobre o ator principal, o verdadeiro protagonista nesse palco nacional. Deixemos esse aspecto secundário para os que exploram o sensacionalismo, os “mestres das ruínas”, como disse Augusto dos Anjos.
Outros, piamente, confessaram a sua perplexidade, admitindo não entender esse enigma, tão cabeludo.
Só para provocar, sugiro uma possibilidade para a decifração da esfinge e talvez fosse interessante que os blogues, corajosamente como sempre, estimulassem um debate sobre o tema.
Penso que, muito mais que um protesto, esse movimento sinaliza para um fato importantíssimo.
Como as dores do parto o movimento se trataria de um prenúncio do iminente nascimento de um quinto poder. Natividade essa que foi bravamente anunciada e antecedida pelo pioneirismo dos blogues valorosos.
A Imprensa, que foi sempre considerada como o Quarto Poder da República, se distanciando cada vez mais de sua missão original de porta-voz da população por comprometimentos escusos ou por omissão imperdoável, vai abdicando de seu indelegável papel de órgão fiscalizador dos demais poderes.
Restou então, aos que não têm voz, nesses tempos de internet, a formação dessa mídia universal e pessoal, que permite a veiculação instantânea e espontânea dos anseios basilares da pessoa humana.
E não estaria sendo feito exatamente isto pelas redes sociais da rede mundial?
Se for verdade, a mídia convencional que se cuide: se não admitir com humildade a sua enorme parcela de responsabilidade, não exercitando um mea culpanesse latifúndio de críticas dispersas e aleatórias, deve se preparar para ser despida de seu poder.
E, bem proximamente, extinta.

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