sexta-feira, 28 de junho de 2013

Cagado mas limpinho

Há muito tempo que não ria tanto. Sabe daquelas gargalhadas de doer a barriga? Pois é... Só mesmo o Hildenício Alvarenga com a sua grande capacidade de contador de causos e piadas pra fazer esse milagre. Afinal... Bem, sei que muita gente deve conhecer, mas vamos lá...
O paciente entra no consultório do médico e, como sempre, tem início àquelas perguntinhas:
-          O que o senhor está sentindo?
De pronto o jovem senhor, deixando a diplomacia que lhe é peculiar, taxa a mais singular e surpreendente anamnese  imaginável.
- “Doutor, é que todos os dias, às 11 horas, esteja onde estiver, chova ou faça sol, fazendo o que for, eu me cago. É só isso”.
O médico tenta descobrir mais alguma disfunção no paciente sem nenhum sucesso. Disfarça, vai numa sala reservada e, por telefone, tenta saber de três ou quatro colegas se já haviam visto caso parecido. Todos lhe garantiram não terem visto em nenhuma literatura nada parecido.
Voltou ao paciente e, como médico que se preza sempre tem que ter um diagnóstico, sentenciou a situação como de fundo nervoso. Receitando dois leves relaxantes ao paciente. Enfaticamente cobrou o seu retorno em um mês para uma “revisão” - Parece até coisa de carro, quando aqueles mecânicos nos fazem trocar peças e mais peças, pra depois se descobrir que o defeito era apenas um parafuso frouxo. Mas, afinal, os médicos não são os mecânicos da máquina humana? 
Sempre curioso, o médico aguardava o retorno de tão diferenciado paciente, o que não acontecia.
Dois meses depois, coincidentemente, a dois minutos pros ponteiros indicarem 11 horas, o doutor que caminhava pela 13 de Maio, avistou numa dessas casas de frente, o ilustre na janela. Mais do que rápido se precipitou em busca de noticias.
- E aí, como tem passado? Não voltou mais pra me dar noticias...
O jovem senhor que ainda estava com os olhos apertados e a boca esticada tranqüilizou logo o preocupado doutor:
- É, doutor, eu ‘tô cagado, mas ‘tô calminho.
Hildenício jamais poderia imaginar que tinha acabado de batizar a nossa pequena confraria, eu e mais quarenta e dois amigos, que, semanalmente, nos reunimos para um chá e conversar sobre alguns temas. Passamos a nos chamar “Os Cagados, mas calminhos”. Afinal de contas temos em comum a paixão pelo Venturini, pelas letras do Belchior, pelo Ivan Lins, pela jinga e molecagem do Zeca Pagodinho, pelo Zé Ramalho...

Escrita em 2009

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