sexta-feira, 7 de junho de 2013

Em Campos, Meio Ambiente é tratado como agenda factual

"FIZEMOS ALGUMA COISA!..."

foto:gerson gomes - site oficial da prefeitura

É óbvio que ver uma fotografia de qualquer prefeita plantando uma árvore junto às crianças da rede pública de ensino deveria nos fazer imaginar a intenção exemplar que a dirigente tem pelas coisas do Meio Ambiente. Seria uma boa maneira de perceber o caráter educativo da imagem. Acontece que foi ontem, no Dia Mundial do Meio Ambiente e em uma cidade onde já se tornou vulgar e chato falar em arrecadação milionária. 
Já em meio ao primeiro ano do segundo mandato, esperar que o lançamento de pedra fundamental para a instalação de Centro de Educação Ambiental, num tímido espaço para ações e conscientização sobre as coisas do Meio Ambiente seja uma ação de gestão abrangedora... Ele está isolado num distrito distante e com características próprias, no que em nada pese, está junto a um aterro. Alcançaria mesmo a abrangência necessária? A negativa é garantida. Porém, se fosse um projeto amplo, em cada um dos distritos, nos vários bairros da cidade, nas escolas... Mas é claro que a agenda tem que ser cumprida para não passar em branco. “E o que temos pra fazer amanhã no Dia do Meio Ambiente? Temos que fazer algo!” – imagino o malabarismo.

Exemplo: Campo São Bento - Niterói, em pleno Icarái

A realidade é que Campos não tem uma política consistente para enfrentar os desafios climáticos que precisam principalmente da educação individual como precursor coletivo. Enfeitar as áreas nobres e amplas com ajardinamentos milionários não engana ninguém.
Uma população que beira o meio milhão - segundo o IBGE temos 463.731 de habitantes, distribuídos em 4 milhões de quilômetros quadrados – não pode ser enganada em tema tão sério para a vida de todos. Não serão factoides com fisionomia emprestada de ações continuadas que minorarão a irresponsabilidade do crescimento desordenado e sem qualquer controle pelo qual o município passa. Certamente os que mais sofrerão serão os que hão de chegar daqui a mais um pouco.
Em plena Icaraí, em Niterói, o Campo São Bento é um exemplo típico da importância que os parques têm para as cidades. Jovens, idosos, deficientes, lagos, animais da mais diferentes formas, cantar de pássaros. As centenárias árvores – que um dia já foram apenas brotos –,  junto às centenas de plantas, oxigenam o ar e a alma. O Campo promove a convivência, fazendo  com que nem percebamos que está emoldurado por centenas de carros em constante circulação.

Parque Alberto Sampaio com inspiração européia

Em Campos não existe sequer um parque. Além disso, convivemos há décadas com o carma da destruição das poucas áreas verdes que ainda existiam na região central. Parece mesmo uma disputa ao longo dos tempos entre os prefeitos para saber quem mais destruiria o pouco de verde que ainda restava. Vamos lá: Rockfeller sepulta a Praça da Bandeira para dar espaço ao falecido e abandonado Palácio da Cultura; Zezé Barbosa mutila o belíssimo Parque Alberto Sampaio, de características europeias, e manda fazer uma intervenção feia e capenga que nunca funcionou.
Ali mesmo, outra campista enquanto governadora põe definitivamente uma pá de cal sepultando-o definitivamente com o maior elefante branco, desumanizador, devastador de árvores e da praça na confluência da Beira Valão com Alberto Torres: a maldita ponte. E continua, agora como prefeita, a trocar o verde por estacionamentos no pouco que restou. 

Praça do Santíssimo Salvador, onde hoje existe uma arena de granito

Insanamente Arnaldo Vianna transforma a principal, histórica e tradicional Praça do Santíssimo Salvador e a das Quatro Jornadas numa arena de nada. Isto sem falar em praças tomadas eleitoralmente por particulares. Caso mais doloroso é o caso da ex-praça Azeredo Coutinho, que se encontra totalmente coberta até além meio-fio.  Creio que na primeira era da dinastia Willian, árvores que compunham a pracinha ao lado do mercado foram retiradas juntamente com os canteiros de plantas para ceder lugar a um camelódromo.

Numa tentativa única e exclusiva de se destacar como recordista, numa de suas magníficas criações, o prefeito do Muda Campos resolve plantar 20 mil árvores num só dia. Sem a proteção e atenção devidas, quase todas foram perdidas. Houve uma segunda tentativa também fracassada. Não fosse assim, Campos hoje seria mais fresca. Mas há males que vêm para o bem. Com um grupo criamos a Corrente Verde. Um grupo de amigos que se reunia e saia por aí plantando árvores e depois comemorávamos com cerveja e churrasco. Foram cerca de 17 mil plantadas, protegidas com material reciclado doado pela antiga Demaco e comumente adotadas pelos moradores. Resultado desta brincadeira, por exemplo, é a pracinha na Saldanha Marinho com Felipe Uébe, antes um terreno de barro batido. Quando não poeira, lama e vice-versa.  – jamais poderia esquecer, pois o plantio foi no dia de um dos meus noivados.

 
o silêncio conveniente

Mas o pior de tudo é a acomodação e o silêncio do campista. Só recentemente percebi que a prefeitura foi lá e defecou quiosques onde era um lugar apenas verde. Mas o pior de tudo é a acomodação e o silêncio do campista. E por onde andam os órgãos que têm exclusivamente o dever de fazer valer as definições de público?  Qualquer cidadão neste país de vantagens incomensuráveis não pecaria se desconfiasse do silêncio destes. Mas preferimos imaginar que as autoridades, na redoma dos seus gabinetes, não têm tempo para um olhar analítico da cidade em que vivem.

bosques da UENF

Uma cidade que já deveria ter o teu cinturão verde protegido conta apenas com o campus da UENF como maior área de concentração verde urbana de Campos – creio que acompanhado pelo Horto Municipal.  Neste sentido, falta à direção daquela universidade iniciativas para despertar na comunidade o prazer de explorar aquele espaço. Aquele espaço não pode ser de segregação. Deve ter vida e movimento constante.

  

Encurtando: chega de brincar de ações em nome do Meio Ambiente. Debrucem-se seriamente sobre o assunto, com profissionais das diversas áreas pertinentes, e pensem no amanhã com mais seriedade. Focalizei os parques e jardins inspirado na demagogia de ontem. Mas o Meio Ambiente é tão simples e ao mesmo tempo tão complexo quanto o ato de respirar. Esta prática da agenda para mera satisfação só serve para destruir a razão e iludir a própria alma.

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