domingo, 8 de julho de 2012

OLHO GORDO - Uma crônica de Arcinélio Caldas



Balouçando sob o vento nordeste, girassóis resplandeciam ao sol e enchiam de brilho a chácara onde foram plantados no subdistrito de Guarus. A lavoura aguçava a curiosidade dos vizinhos e estendia-se por mais de um alqueire de terras do calculista, matemático e engenheiro Gil Terra.
                                                Gil,  homem impulsivo, empreendedor, que ocupava a vanguarda de sua época, tanto sobre as planchetas de cálculos aritméticos como na vida comum, tinha determinado o plantio da flor. Andava, girava, ele sempre surpreendia a família com novidades de gosto extravagante.
                                                Enquanto os prédios subiam pela lavra dos operários contratados para dar forma às suas criativas plantas, o engenheiro cuidava das viagens à fazenda de café da família em Minas Gerais e da casa de veraneio em Atafona, praia do seu coração. As atividades não preenchiam o vazio do seu tempo. Estava permanentemente à procura de coisas novas para fazer. De certa feita ouviu um amigo do norte falar das vantagens de criação dos papagaios falantes. Colocou de lado o criatório de peixes ornamentais Gupis, o adestramento de cães policiais de seu canil e iniciou o cultivo do papagaio Jandaia da Testa Vermelha, conhecido por Chauá, encontrado na Mata Atlântica e do papagaio Verdadeiro, denominado Aestiva,  habitante da região amazônica.
Um dos viveiros foi colocado no sítio de Guarús, enfrente ao Aeroporto Bartolomeu Lizandro e outro em sua casa de praia no município de São João da Barra. A comida preferida das aves coloridas era a semente de girassol. Na época, rareou no comércio de Campos a ração dos falantes de penas. O empregado Osvaldo comunicou o fato ao patrão: “Dr. Gil, já estive em todas as lojas da cidade e não consigo comprar a comida dos bichos. Seu Décio Luzitano, lá da Gaiola de Ouro, falou que está havendo falta da semente de girassol no Brasil.” Homem de soluções, imediatamente, Gil comprou em São Paulo as sementes do vegetal e determinou o plantio na área de seu sítio em Campos dos Goytacazes.
                                                O possante trator Massey Fergusson 75 cortou e recortou a terra  para receber a plantação e os passantes pouco tempo depois testemunharam o belo espetáculo de encher os olhos de admiração. Os vizinhos, fartos da lavoura de canas, cujos preços pagos pelas usinas se encontravam aviltados, viram uma excelente oportunidade de aventurar no negócio do Dr. Gil, pois, em tudo que o vizinho botava a mão, florescia o lucro e o sucesso. Informados sobre   a aquisição das sementes e forma de plantio, resolveram encarar a empreitada.
                                                Passados alguns meses, Dr. Gil colheu mais de dez mil quilos de sementes e a lavoura dos vizinhos do bairro parecia um jardim verde e amarelo. Os carros paravam na beira da estrada e seus ocupantes ficavam admirados com a beleza da lavoura. Certa noite, ao encerrar o expediente, Dr. Gil foi procurado por uma comissão de vizinhos com a pergunta: “O que  o senhor fez com a colheita dos girassóis?” O engenheiro respondeu com outra: “Por quê?”  “Porque nós vimos o senhor plantar e resolvemos plantar também, agora, temos que colher e vender o produto para recuperar o investimento.”“Bom!”. Exclamou  Dr. Gil e acrescentou: “Estou com semente até o teto do depósito. Fiz a minha lavoura, para dar de comida aos papagaios de Campos e Atafona, agora , vocês decidam o que fazer com a sua. Boa noite!”
                                          
                                       

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