quinta-feira, 9 de agosto de 2012

MAGRO. UMA LIÇÃO DE CARÁTER.



Sérgio Ricardo, pelo facebook


Não é atoa que a noite está tão fria. Antonio? José? Ele tinha um semblante tão bom. Tipo do amigo que todos querem. Mas não era de se dar a qualquer amizade. Um ar de beduíno parecendo vir de algum deserto de seus ancestrais. Waghabi Filho? Sério e ao mesmo tempo com um sorriso de todos os dentes. Magro, educado, espichado e levemente arcado, não por humildade ou defeito físico, mas por uma gentil modéstia encobrindo um talento enorme. Entendia tudo de vozes e as harmonizou e as distribuiu entre as de seus irmãos e por nossos ouvidos com a propriedade de quem sabia dividir sua arte com a generosidade que se pulveriza sem autoria ou busca de reconhecimento. Um tanto arredio, cordial, sincero, amigo… 




O frio desta noite parece saído de dentro de minha consciência por nunca ter chegado a ele a notícia de minha admiração e o desejo de compartilharmos um abraço apertado que agora meu coração me cobra, descendo-me a face olho a baixo. Que os anjos entoem a beleza de suas harmonias e o conduzam docemente aos rincões da beleza sem donos, no colo dos criadores anônimos, como acabo de comprovar ouvindo Brincadeira de Angola, navegando pelo seu arranjo. Seu apelido lhe caia tão bem, que nunca se soube seu nome. Magro. Era simplesmente o Magro do MPB-4.Grande magro!!! Mais uma cor que se desvanece no quadro de nossa música popular e na tela dos corações amigos. Grande Magro!!! Uma lição de caráter.





Assim o JB escreveu:

Antônio José Waghabi Filho, o Magro do quarteto MPB4, morreu às 6h30 desta quarta-feira, vítima de câncer de próstata. Ele estava internado no Hospital Santa Catarina desde 11 de junho, em São Paulo. O corpo será velado até às 21h na Beneficência Portuguesa de São Paulo, no bairro de Paraíso. Na quinta-feira, (9) será cremado no Cemitério da Vila Alpina, também em São Paulo.
Magro era um artista de múltiplas facetas: cantor, compositor, tecladista, saxofonista, percussionista, arranjador, entre várias aptidões. Começou estudando piano, em 1959, no interior do Rio de Janeiro. Depois, foi aluno de Pepita Machado, Eumir Deodato, Guerra Peixe, Isaac Karabtchewsky e Vilma Graça.
Em 60, iniciou sua carreira como vibrafonista do conjunto de bailes Praia Grande. Em 1963, em Niterói , fundou com Miltinho (Milton Lima dos Santos Filho), Aquiles (Aquiles Rique Reis) e Ruy Faria (Ruy Alexandre Faria), o Quarteto do CPC. No ano seguinte o grupo foi batizado de MPB4 e fez uma carreira de sucesso, apresentando-se sozinho ou na companhia de grandes nomes da música popular, notadamente Chico Buarque.
Magro era também um grande arranjador e, como tal assinou arranjos e orquestrações dos discos de artistas como Chico Buarque, Simone, Toquinho & Vinicius, Tunay. Em 2001 e 2002, fez o arranjo vocal e a direção musical do grupo Toque de Arte; em 2003 dirigiu a produção do CD Sertão Paulista, do grupo Vésper Vocal, do qual sua mulher Mônica Thiele faz parte.
Lamentos, Roda Viva, Cálice Cio da terra são algumas músicas nas quais ele trabalhou como arranjador vocal e ganharam prêmios.  
Ele foi o diretor musical do MPB4 que, em 2004, perdeu Ruy Faria, cuja vaga passou a ser ocupada pelo ex-integrante do grupo Céu da Boca, Dalmo Medeiros.
Em 2012, o conjunto lançou Contigo Aprendi, CD de boleros com versões para canções de Caetano Veloso, Paulo César Pinheiro, entre outros. Samba e MPB são os gêneros mais cantados pelo grupo. O último show de Magro com o MPB4 foi dia 8 de junho, em Natal, no Rio Grande do Norte. Carioca de Itaocara, nasceu em 14 de novembro de 1943, deixa um casal de filhos. (Pedro Rocha)

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