O presidente da Fundação Pró-Cerrado, Adair Meira, afirmou, na noite de ontem, em entrevista ao Correio, que conhece Carlos Lupi (PDT) e que esteve no jato que transportou o ministro do Trabalho a cidades do interior do Maranhão, em dezembro de 2009. “Eu acho o ministro confuso ou esquecido. Quando ele nega que nos conhece, do jeito que está dando a entender, fica parecendo que temos 300 coisas a esconder. Não é verdade”, contestou Adair.
A denúncia de que Lupi usou um avião patrocinado pelo presidente da entidade financiada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) deixou o ministro em situação ainda mais delicada. Desde julho, quando o Correio publicou reportagens sobre as irregularidades nos convênios da pasta com a Fundação Pró-Cerrado, a estratégia de Lupi é negar que conheça Adair e a ONG. “Eu não tenho nenhuma relação com o senhor Adair Meira”, disse, em depoimento na Câmara, na semana passada. “A Pró-Cerrado faz o quê? Que tipo de capacitação?”, havia afirmado ao Correio, há quatro meses.
Ao dizer que esteve no voo com Lupi e com o então titular da Secretaria de Políticas Públicas de Emprego (SPPE), Ezequiel Nascimento, Adair mudou a versão sustentada até ontem. Antes, o presidente da Fundação Pró-Cerrado assegurava que não estava no voo. Agora, admite ter viajado com o ministro.
A presença de Adair na comitiva de Lupi no Maranhão foi decisiva para garantir os contratos da entidade com o MTE. Quando os dois fizeram o périplo pelo interior do estado, há dois anos, a pasta já havia sido avisada formalmente sobre 13 irregularidades detectadas pela Controladoria-Geral da União (CGU) no primeiro convênio firmado entre o ministério e a Fundação Pró-Cerrado, em 2007, no valor de R$ 2,3 milhões. Mesmo assim, após a viagem de Adair, Lupi e Ezequiel, mais sete contratos foram assinados com a entidade, no valor de R$ 11,6 milhões. Esses compromissos começaram a ser firmados a partir de janeiro de 2010.
Até o encontro com Lupi e Ezequiel no Maranhão, Adair havia obtido um único convênio com o MTE, assinado em dezembro de 2007, quando foram liberados R$ 2,3 milhões para que a Fundação Pró-Cerrado executasse o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego, antecessor do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem). Documento da CGU obtido pelo Correio mostra que a entidade falhou — e cometeu erros graves — na execução desse convênio. “A Fundação Pró-Cerrado mostrou-se deficiente na execução das ações de qualificação dos jovens atendidos, tanto nos aspectos operacionais quanto nos aspectos finalísticos da política”, concluiu a auditoria da CGU.
A primeira nota técnica, com as conclusões das irregularidades, foi encaminhada à SPPE em dezembro de 2008. No ano seguinte, o órgão reforçou a existência das falhas e fez as conclusões da auditoria constarem no Relatório de Avaliação da Gestão da SPPE de 2009. O alerta da CGU foi insuficiente para impedir a assinatura de sete novos convênios entre o MTE e a Fundação Pró-Cerrado. Dos R$ 11,6 milhões, faltam ser repassados R$ 3,4 milhões.
Na identificação de irregularidades no convênio firmado em 2007, a equipe de auditores da CGU esteve presente nos locais onde os cursos eram ministrados aos jovens, em Goiânia, e constatou falhas na execução financeira, na execução física e na realização das licitações pela Fundação Pró-Cerrado. A entidade efetuou pagamentos antes mesmo da execução dos serviços, conforme a auditoria. Além disso, parte do dinheiro repassado foi movimentada em desacordo com a legislação e o plano de trabalho deixava de detalhar as despesas a serem realizadas.
Adair é conhecido no PDT como um “homem de favores”, que vão desde o patrocínio de um jantar político aos contatos partidários com aliados regionais. O voo ao interior do Maranhão, por exemplo, teria sido pago pelo comandante da Pró-Cerrado, conforme informação do próprio ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego Ezequiel Nascimento publicada na revista Veja.
O Correio tenta falar com o ministro Carlos Lupi e sua assessoria desde o último sábado, mas não obtém retorno. Ezequiel Nascimento também não responde aos contatos da reportagem.
PF e oposição de olho no caso
A Polícia Federal investigará a denúncia de que Lupi teria viajado em um jato pago pela Fundação Pró-Cerrado. Segundo o Ministério da Justiça, o caso será apurado em inquérito já aberto pela PF para apurar irregularidades em convênios da pasta. Já o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), protocolou um requerimento na Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo investigações sobre o caso. Ainda ontem, um site de notícias de Grajaú (MA) divulgou imagens do momento em que Lupi chega ao município na aeronave que teria sido paga pela ONG.
Três perguntas para - Adair Meira
Presidente da Fundação Pró-Cerrado
O senhor conhece o ministro Carlos Lupi, tem relação política com ele?
Nós estamos sendo usados para atacar o ministro, numa crise que não é nossa. Mas, quando o ministro fala da gente com aquele desprezo, ele está nos deixando na berlinda. Ou o ministro é equivocado, ou é esquecido. Eu nunca neguei que o conheço. Mas não tenho relação estreita ou informal com o ministro. Eu contesto o que ele declarou, que acaba levando a esse tipo de especulação que não interessa a ninguém.
O senhor estava no voo com o ministro pelo interior do Maranhão? Pagou o aluguel do voo? O que foi conversado naquela viagem?
Confirmo as informações dadas pelo Ezequiel (Nascimento, ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego). Não patrocinei o voo, indiquei a empresa de táxi aéreo para o Ezequiel, a Aerotec. Eu não fiquei perto do ministro (dentro do avião). Fui convidado pelo Ezequiel. Eu não sei se Ezequiel e Lupi estão brigados. Acho que estão, porque o Ezequiel era presidente do diretório do PDT e foi afastado. Fui convidado porque era a cidade natal dele, Grajaú. Absolutamente, não tratamos de convênios na viagem.
E de onde vem sua relação com Ezequiel?
Ezequiel nos convidou para concorrer às chamadas públicas do ministério. Ele estava precisando de boas instituições. É difícil acreditar, mas é a verdade. Quando entramos lá, eles estavam com muitos problemas na execução dos programas, com entidades que não entregavam o serviço. Nós temos qualidade para fazê-los.
(Vinicius Sassine - clique sobre Correio Braziliense e leia +)
Nenhum comentário:
Postar um comentário