sábado, 5 de novembro de 2011

Abelhas que fazem bem às matas e às plantações

Pesquisas da UENF mapeiam presença e população de espécies na região

Abelha Euglossina na Mata do Carvão, São Francisco do Itabapoa. Foto: Paulo Augusto Ferreira
Abelhas Euglossina, conhecidas como ‘abelhas das orquídeas’, não fazem mel, mas prestam outro serviço precioso: polinizam as plantas e permitem o surgimento dos frutos e a propagação das espécies. Para estudar os efeitos da fragmentação das matas sobre a vida destes insetos, o pesquisador Willian Moura de Aguiar dedicou a eles sua tese de doutorado em Ecologia e Recursos Naturais, defendida em 12/09/11, na UENF. E concluiu: nos fragmentos maiores, ainda se vê número maior de espécies e maior população de abelhas; nos menores e mais devastados, o número de espécies é menor.
A tese foi orientada pela professora Maria Cristina Gaglianone, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF, e se insere num conjunto de pesquisas com abelhas polinizadoras desenvolvidas na Universidade, que têm sido financiadas pelo projeto Rio Rural/GEF, Procad/Capes, CNPq-Polinizadores e Probio/MMA. Um destes trabalhos demonstrou que plantações de maracujá situadas perto de fragmentos florestais são beneficiadas pela presença, em maior número, de abelhas que polinizam as plantas e aumentam a produção.
- É importante conscientizar o produtor quanto à importância destas abelhas e da preservação dos fragmentos de mata – comenta a pesquisadora da UENF.
A pesquisa se desenvolveu em quatro pontos situados no Norte Fluminense ou adjacências: Morro do Itaoca, em Campos; Mata do Carvão e arredores, em São Francisco do Itabapoana; São José de Ubá, no Noroeste Fluminense; e Trajano de Moraes, na região serrana. Cada campo de pesquisa tinha matas com características específicas.
- No Itaoca, por exemplo, a floresta é considerada semidecidual, pois algumas árvores perdem as folhas na estação seca. Já em Trajano é uma floresta ombrófila, mais úmida, típica de altitudes acima de 500 metros em relação ao nível do mar. Todos são fragmentos de Mata Atlântica, mas diversificados entre si – explica a professora.
O estudo confirmou que conforme o tipo de vegetação presente, encontram-se espécies distintas de abelhas Euglossina. Pelo menos uma das 15 espécies catalogadas só ocorreu em regiões mais altas, acima de 700 metros de altitude. É a espécie Euglossa annectans.
As abelhas do ‘grupo das orquídeas’, como a maioria das demais espécies, não fazem mel e não vivem em colônia. O Brasil abriga mais de 1,5 mil espécies de abelhas. A espécie criada para produção de mel (Apis mellifera) não é nativa do Brasil, embora tenha sido introduzida há muito tempo.
Projeto de extensão com produtores
Muitos produtores rurais desconhecem a ação das abelhas de diversas espécies e de outros animais polinizadores, que ajudam as plantas a se propagar. Entre os polinizadores estão o beija-flor e outras aves, abelhas, borboletas, mariposas, besouros, moscas, além de outros insetos e até morcegos. Quanto mais próxima de florestas estiver a área plantada, mais facilmente ela será visitada por estes animais.
Segundo a pesquisadora Maria Cristina Gaglianone, da UENF, muita gente confunde as abelhas Euglossina com moscas varejeiras e não identifica certas espécies como sendo de abelhas, pois pensam que a única espécie deste inseto é a que produz mel (Apis mellifera). Em vez de se alegrar com sua presença, muitas vezes o agricultor as afugenta.

Maria Cristina: conscientização dos produtores
- O pé de maracujá, por exemplo, precisa da ação dos polinizadores, especialmente as abelhas mamangavas, para formar seus frutos. Estudos indicam que quando a plantação está perto de uma mata, onde as condições são melhores para o preparo dos ninhos, a polinização é maior – afirma a pesquisadora, lembrando que a falta de polinizadores pode acarretar tanto a queda na produção da lavoura, quanto a diminuição na biodiversidade.
Para difundir entre os produtores conhecimentos sobre a importância dos polinizadores, a UENF vem desenvolvendo projeto de extensão coordenado por Maria Cristina Gaglianone. O projeto tem como título ‘Polinizadores como agentes ecológicos e incentivo à preservação ambiental em comunidades rurais’, e vem sendo desenvolvido na região de São José de Ubá.
Culturas que dependem dos polinizadores
Diversas culturas dependem diretamente da ação de agentes polinizadores para se propagar: maracujá, caju, feijão, quiabo e citros (laranja, limão e afins). Outras, mesmo sendo capazes de se propagar sozinhas – como é o caso do tomate, por exemplo – podem produzir mais quando em contato com polinizadores.
A pesquisadora Maria Cristina Gaglianone explica que as flores possuem uma parte masculina e outra feminina. É a parte masculina que produz o pólen, onde está inserido o gameta (célula reprodutora) masculino. No entanto, muitas plantas não conseguem fazer o grão de pólen chegar, sozinho, até a parte feminina da flor, para que haja a fecundação e o fruto seja criado.
- Uma maneira de esse pólen chegar à parte feminina é através da ação dos agentes transportadores. A maioria das plantas precisa de um animal para fazer isso. O principal é a abelha – explica.
Além das cores vivas e do cheiro diferenciado, o que atrai os polinizadores até as flores é o néctar, solução açucarada que serve de alimento para os animais. Enquanto sugam o néctar, os grãos de pólen grudam sobre seus corpos. Ao pousarem em outras flores, levam o pólen que acaba entrando em contato com a parte feminina da flor.
(ascom-uenf)

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