quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Seca no NF: ‘sem expectativa de solução’


Professor da UENF diz que é preciso aceitar o fenômeno, investindo mais em técnicas que possam minimizar os efeitos da falta de chuvas na região

Não há expectativa de solução para a ocorrência de seca no Norte Fluminense. A opinião é do professor e pesquisador Elias Fernandes de Souza, do Laboratório de Engenharia Agrícola (LEAG) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da UENF. Segundo ele, é preciso que haja a ‘aceitação’, ou seja, o reconhecimento de que períodos de seca são recorrentes na região e, desta forma, planejar e elaborar investimentos em técnicas agrícolas que possam minimizar os efeitos da seca na produção agrícola — como é o caso da irrigação.

— Podem ocorrer períodos de chuvas suficientes e bem distribuídas, mas a história das chuvas na região mostra que a frequência de ocorrência de secas é maior que os períodos úmidos — diz, lembrando que, junto com a Região dos Lagos, o Norte Fluminense é a região mais seca do Estado do Rio de Janeiro.

Segundo Elias, não há um levantamento preciso da área agrícola irrigada na região. Ele observa que, com a queda do parque industrial da cana-de-açúcar nos últimos anos, a área, que já não era muito extensa, sofreu uma grande redução. Além das usinas e dos produtores de cana-de-açúcar, há utilização de irrigação principalmente entre os produtores de frutas (abacaxi, goiaba, coco, lima e laranja) e hortícolas, principalmente tomate.

— Todos sofrem com a seca, mas o setor que mais sente os efeitos da seca na região certamente é o agrícola. Altas temperaturas, baixa umidade e solo seco criam um ambiente impróprio para o crescimento das plantas e consequentemente para toda a cadeia produtiva na agricultura — afirma.

Segundo o professor e pesquisador José Carlos Mendonça, que também atua no LEAG/UENF, o déficit hídrico do solo, aliado aos ventos fortes, resseca a vegetação e favorece as queimadas. Além disso, o rebaixamento do lençol freático permite a oxidação de áreas do solo normalmente reduzidas, favorecendo a emissão de gases que podem intoxicar os animais. A seca também compromete o nível dos rios e lagoas, impactando o regime de reprodução dos peixes e a atividade pesqueira em geral.

Ele afirma que o que está causando a seca são diferentes fenômenos relacionados à circulação atmosférica global, como a existência de um forte sistema de baixa pressão no Oceano Atlântico Sul e a forte intensidade da alta subtropical do Atlântico Sul, que injeta ventos fortes na costa leste do Brasil, principalmente entre as regiões Norte do Rio de Janeiro, Estado do Espírito Santo e Sul da Bahia.

Professor Valdo Marques
— A presença do centro de baixa pressão no Oceano Atlântico Sul funciona como uma espécie de sumidouro, atraindo para o Oceano, nas proximidades da Região Sul do Brasil, as massas de ar oriundas da Antártida. Já a Alta Subtropical do Atlântico Sul funciona como um bloqueio às entradas dessas frentes — explica, ressaltando que as regiões que mais sofrem com a seca são o Norte e o Noroeste do Estado do Rio de Janeiro, principalmente os municípios de Campos dos Goytacazes, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Quissamã, que estão mais próximos do litoral.

Segundo o professor Valdo Marques, do Laboratório de Meteorologia da UENF (LAMET), há possibilidade de o regime normal de chuvas começar ainda neste mês de janeiro. Já Mendonça observa que há uma previsão, porém de baixa probabilidade, de chuvas para o próximo fim de semana, principalmente a partir de 11/01.

— No período de 1960 a 2000, segundo um relatório que elaboramos na época, a chuva diminuiu em torno de 30% na região de Campos. Mas, nos anos 2000 a 2011, não se registrou grande deficiência hídrica na região. Assim, esta seca de agora se insere naquilo que os meteorologistas chamam de ‘Variabilidade Climática Inter-Anual’— afirma Valdo Marques.

Ana Clara Vetromille
Fúlvia D'Alessandri  

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