Sonia Rabello
No dia em que o Governo da Cidade publica a sanção à lei de incentivo municipal aos produtores culturais, é também divulgado que o prefeito da Cidade, por uma penada de “duas linhas”, autoriza a demolição do prédio símbolo da cultura indígena na Cidade do Rio de Janeiro, desatendendo ao parecer do Conselho do Patrimônio Cultural da Cidade. Bravatas e contradições?
Este fato somente me mostra que os milhões a serem descontados dos impostos da Cidade para produção cultural de hoje poderá, em algumas décadas, ter o mesmo destino do prédio símbolo da cultura indígena – ou seja – chão, pó, ou lixo.
De que vale o dinheiro para produção cultural se não tivermos a garantia de que ela, depois de feita, será preservada para as futuras gerações? Será a criação de hoje um mero deleite dos produtores apenas do momento?
Se em 1865, o Duque de Saxe fez a doação do terreno (confira mais) e, depois, por ali passaram as atuações e o trabalho de centenas de brasileiros, dos incógnitos servidores públicos, aos famosos indigenistas, como Rondon e Darcy Ribeiro, e isso não tem valor cultural para Cidade, resta indagar: o que, então terá?
E aí, nem a memória do nosso futebol… em nome de que tudo mais estará sendo destruído, sobreviverá.
Rio, cidade sem memória, é cidade sem cultura: patrimônio da “des-humanidade”.