segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mudas de laboratório para recompor florestas

Pesquisas da UENF geram tecnologia para produção maciça de mudas de espécies florestais ameaçadas na região
Depois da micropropagação em laboratório, as plantinhas têm que passar por aclimatação em casas de vegetaçãoPesquisadores da UENF estão aperfeiçoando técnicas de micropropagação (em laboratório) de espécies florestais nativas para viabilizar o reflorestamento de áreas degradadas no Estado do Rio de Janeiro. Com recursos da Faperj, através do edital 'Prioridade Rio 2010', os estudos envolvem quatro espécies de árvores: peroba-do-campo (Paratecoma peroba), braúna (Melanoxylon brauna), jequitibá rosa (Cariniana legalis) e vinhático (Plathymenia foliolosa). Todas estão ameaçadas de extinção em seus habitats naturais no Estado do Rio, especialmente na região Centro-Norte Fluminense.
Na natureza, uma semente pode gerar uma muda. Com técnicas de micropropagação, uma semente pode gerar até 256 novas plantas. Mas não há conhecimento específico sobre os melhores procedimentos para a propagação destas espécies in vitro. Vencer este obstáculo é a missão do grupo liderado na UENF pela professora Claudete Santa Catarina, do Grupo de Biotecnologia Vegetal (LBT/LBCT) do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB). Além de outros pesquisadores da UENF, o grupo também envolve pesquisadores da USP e da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).  
A professora Claudete Santa Catarina, do Grupo de Biotecnologia Vegetal (LBT/LBCT) da UENF, coordena os estudos (Foto: Felipe Moussallem / ASCOM UENF)- Estas espécies produzem sementes chamadas recalcitrantes, que se tornam inviáveis caso percam umidade além de certo limite, o que não permite que sejam armazenadas por muito tempo. Por não tolerar a perda de água, é necessário o armazenamento com alta umidade, o que favorece o ataque de micro-organismos e a ocorrência de germinação durante o armazenamento. Por estas e outras razões, estas espécies nativas de interesse econômico são mais difíceis de trabalhar - explica Claudete.
Os estudos estão testando diferentes reguladores de crescimento e checando os que resultam em melhor taxa de brotação. Em linhas gerais, esta é a sequência: da semente se geram plântulas, que são seccionadas (divididas em várias partes), dando origem aos chamados explantes, que vão para o enraizamento in vitro. Cada explante já poderia dar origem a uma muda, mas o processo pode ser repetido até seis vezes, podendo gerar até 256 novas plantas. Em seguida vem a fase de aclimatação em casa de vegetação, por um período de aproximadamente 30 dias, com variações conforme a espécie. Ali a muda começa a ser preparada para realizar o metabolismo fotossintético - por assim dizer, 'caminhar com as próprias pernas'. Nestas espécies, os métodos de propagação convencional por estaquia são de difícil controle; quanto mais velha árvore doadora, menor a capacidade de enraizamento das estacas.
Ao mesmo tempo em que definem os melhores protocolos para produção e propagação das mudas em laboratório, os pesquisadores já estudam a aclimatação de parte do material. O passo seguinte será observação do comportamento das mudas em condições de campo.

Mudas serão plantadas em microbacias

Marcelo Trindade Nascimento, professor do Laboratório de Ciências Ambientais da UENF, vai utilizar mudas em projetos com pequenos produtores ruraisProduzir mudas em quantidade não é tudo; é preciso garantir que elas sejam viáveis no campo. Para acompanhar seu desenvolvimento e grau de mortalidade, o professor Marcelo Trindade Nascimento - do Laboratório de Ciências Ambientais da UENF - espera contar com a colaboração de pequenos produtores engajados num projeto de reflorestamento de microbacias coordenado pelo programa Rio Rural/GEF (Global Environmental Facility), da Secretaria de Estado de Agricultura.
A interação da UENF com os agricultores se dá em microbacias localizadas em três municípios: São Francisco do Itabapoana, São José de Ubá e Trajano de Morais. Produtores cedem áreas ribeirinhas para o plantio de mudas e saem ganhando ao fazerem com recursos subsidiados um reflorestamento que teriam que providenciar por conta própria, segundo a legislação. Além disto, os produtores ganham a médio prazo com o crescimento na oferta de água mediante a recuperação de áreas de nascente, olhos d'água e áreas ribeirinhas.
- Estamos trabalhando nas microbacias de Caixa D'Água (Trajano de Morais), Valão de Santa Maria (São José de Ubá) e Brejo da Cobiça (São Francisco). É lá que pretendemos fazer os experimentos com as mudas produzidas através das pesquisas da professora Claudete - explica o pesquisador.
A demanda por mudas na região já é grande e tende a ser maior nos próximos anos. Segundo Marcelo, a procura só não é maior porque muitos produtores ainda não cumprem as prescrições da lei. As discussões em torno do novo Código Florestal, que poderão resultar na dispensa de multa para quem reflorestar áreas que deveriam funcionar como reserva legal, já aquecem o mercado de mudas de espécies florestais.
- Estamos monitorando estas áreas desde 2006 para verificar os índices de biodiversidade, pois a recuperação de matas sempre traz consigo a volta de animais que andavam sumidos. Alguns fragmentos de floresta estão crescendo, e um resultado mais efetivo deve ser visto em dez a 20 anos. Mas já há relatos animadores feitos por agricultores - diz Marcelo.

ascom/uenf

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