sábado, 2 de outubro de 2010

UENF desenvolve medicamento contra alergia a mamona

Produto gerado por pesquisa da UENF pode beneficiar quem trabalha em plantações de mamona, que é matéria-prima para fabricação de biodiesel

Uma das matérias-primas passíveis de utilização na produção de biodiesel, a mamona também é conhecida pela propensão a desenvolver alergias. Mas um novo medicamento, desenvolvido a partir de estudo desenvolvido na UENF pela equipe da professora Olga Lima Tavares Machado, tem apresentado resultados promissores. Em laboratório, o medicamento se mostrou capaz de impedir em ratos a liberação de histamina, substância do organismo responsável por desencadear os sintomas da alergia. O tema é destaque da revista Ciência Hoje On-Line, em matéria assinada por Debora Antunes.

Para quem trabalha em plantações de mamona ou vive nas imediações, o medicamento pode ser uma solução não só para a alergia à mamona, como também a outras substâncias.

- O pólen da mamona possui substâncias alergênicas que podem se dispersar no ar, provocando não só alergia à planta, mas permitindo o desencadeamento de sensibilidade a outras proteínas alergênicas, como as contidas nas poeiras do ar, em peixes, no camarão e em outros alimentos - explica a pesquisadora. Estas ocorrências são chamadas de reações cruzadas, e os testes do medicamento em células de ratos conseguiram impedir também essas reações.

Como funciona - Presente em células do organismo, a histamina entra na corrente sanguínea quando ocorre contato da pessoa com substâncias causadoras (os alérgenos) e gera os sintomas da alergia. Isto não ocorre imediatamente, mas apenas mediante um segundo contato com a fonte causadora.

O primeiro contato com as proteínas alergênicas desencadeia no organismo a produção de dois tipos de anticorpos: a imunoglobulina G (IgG) e a imunoglobulina E (IgE). O IgG tem a função de defender o organismo e retirar dele o alérgeno. A função do IgE não é totalmente esclarecida, mas ele é produzido em maior quantidade nas pessoas com propensão a alergias. Quando há o segundo contato desses indivíduos com o agente causador, esse anticorpo se associa aos alérgenos, o que desencadeia a liberação de histamina.

- O medicamento que desenvolvemos impede justamente a ligação da IgE com o alérgeno, evitando a liberação de histamina e o desenvolvimento dos sintomas da alergia - explica a professora Olga Machado.

A solução foi desenvolvida a partir de aminoácidos identificados no estudo da mamona, e que podem ser produzidos quimicamente. A pesquisa já resultou numa patente e busca agora as doses adequadas e a melhor via de administração para ser adotado como medicamento em seres humanos.

Por ora, o medicamento vem sendo chamado pelos pesquisadores de 'bloqueador de IgE'. Ele atua de forma diferente dos antialérgicos (anti-histamínicos) existentes, já que grande parte deles atua somente após a reação alérgica, como explica a bioquímica da UENF.

O bloqueador foi desenvolvido a partir da análise de moléculas das proteínas alergênicas da semente de mamona (albumina 2S). O ponto de partida foi elucidar a região da molécula que interage com o IgE (o chamado epitopo).

- A partir deste conhecimento, encontramos uma substância que impede essa ligação - conta a pesquisadora.

Proposição de vacina e reaproveitamento de resíduos
O estudo da região do alérgeno que se liga à IgE não permitiu apenas desenvolver o medicamento que está em fase de testes. Esse conhecimento poderá ser útil para criar uma vacina, baseada em imunização com peptídeos alergênicos, que servirá para prevenir alergias decorrentes do contato com a mamona e aquelas reações alérgicas geradas por reações cruzadas entre alérgenos alimentares e inalantes.

A extração do óleo da mamona gera grande quantidade de resíduos, conhecidos como 'torta de mamona'. Rica em proteínas, a 'torta de mamona' só pode ser aproveitada como adubo, devido à presença de substâncias tóxicas como a ricina. Além disto, a presença das albuminas 2S (componentes alergênicos) pode provocar reações alérgicas naqueles profissionais que manipulam a torta. Para que resíduo (torta) possa ter um destino melhor, o grupo de pesquisadores vem desenvolvendo formas de desativar os agentes tóxicos e alergênicos e já chegou a algumas técnicas eficientes, como relata a matéria da Ciência Hoje On-Line.

- A torta modificada está sendo usada na alimentação de peixes, e temos previsão de incluí-la numa ração para aves - diz Olga Machado.

Desenvolvimento de mamona transgênica
Machado explica que a mesma substância que causa alergia é um componente de defesa da mamona, protegendo-a do ataque de predadores, como fungos e insetos. Daí é importante conhecer a molécula como um todo, ou seja, elucidar não só as regiões da molécula que provoca a alergia, mas também aquelas que são importantes para a planta se defender e crescer normalmente.

- Desenvolvemos alguns estudos neste sentido e acreditamos que com este conhecimento poderemos reduzir a atividade alergênica da mamona sem desativar a proteção natural da planta - prevê a pesquisadora.

Assim, a próxima etapa do trabalho é desenvolver transgênicos que tenham menor potencial alérgico ao homem, mas sem desarmar as defesas naturais da planta.
fonte:ascom/uenf

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