domingo, 7 de fevereiro de 2010

Uma dinastia de 23 anos X Um Novo Nome. (2)

Ainda há pouco aprendíamos que a família era a célula mater da sociedade. E, embora com as mudanças dos hábitos, creio ainda ser. Afinal, é nela que aprendemos as normas e os valores sociais. Na verdade, hoje, como pai, tentamos repassar as experiências e aprendizados.
É lógico que a mesa diária do almoço e do jantar está quase que reservada para os dias festivos. O domingo que reunia as famílias, quase extinto. O tomar a bênção está démodé – e ainda ouço a voz da minha vó Zazá a me responder o “Bença Vó”, quando dizia com humor e carinho imenso “Deus te abençoe, cabeça de boi”. Tempos idos...
Do engraxar os sapatos em farra de família, deixando-os bem lustrados com a velha camisa de malha que não cabia mais no corpo.
Bem, o tempo passa, a roda-viva gira mais rápido e o mercado requer mais dedicação. Roubando, sem nos deixar perceber, o tempo. O tempo que é a própria vida.
Crescemos e vamos entendendo o tecido social, que nasce com a família.
Leio para vocês (aqui transcrevo) o que o educador colombiano, Jose Bernardo Toro, escreve em seu livro: “A construção do público – cidadania, democracia e participação”, no capítulo intitulado
“O tecido social: a maior riqueza de uma sociedade”:

“Alexis De Tocqueville (La democracia em América. Barcelona: Editorial Orbis, 1969, p.168), tentando buscar uma explicação para a força da democracia nos Estados Unidos (EUA), diz: ‘Nos países democráticos, a ciência da associação é a ciência mãe; o progresso de tudo mais depende dela.”
Saber organizar-se e associar-se é a ciência-mestra de uma sociedade porque assim se produz auto-regulação e assegura-se a proteção aos direitos.
O primeiro passo para superar a pobreza em uma cidade, região ou sociedade é criar e fortalecer as organizações. Um dos indicadores de pobreza mais grave é não estar organizado.
Quando a pessoa não está organizada, não se sente obrigada a respeitar regras dos outros nem da sociedade (não tem auto-regulação) e, ao mesmo tempo, seu isolamento facilita que outros violem seus direitos (não há proteção social).
Uma sociedade é tanto mais sólida quanto maior for o número de organizações ou associações produtivas, ou seja, organizações que gerem transações políticas, econômicas, sociais e culturais úteis.
A relevância de uma pessoa e a capacidade de influenciar em seu entorno social estarão relacionadas com a quantidade de organizações produtivas a que ela pertence. Suas atuações, seus pensamentos e suas decisões terão chance superior de afetar mais pessoas.
O que chamamos de tecido social se refere à rede que as diferentes organizações geram entre si. Quanto maior o número de organizações produtivas, mais dinâmica, forte e auto-regulada será a sociedade, daí a analogia com tecido, que, quanto mais entrelaçada e com fios, mais forte se apresenta.
Na figura, imaginemos que os círculos representem pessoas de um mesmo bairro ou de uma sociedade. A pessoa A pertence a quatro organizações, B a uma, e a C, a nenhuma.



Se alguém pretende violar um direito de A, sua reação (o ato de reclamar ou proteger seu direito) faz vibrar ou mobilizar mais pessoas por meio das organizações a que pertence; estando, assim, mais protegido em seus direitos. B tem menos possibilidades e C se encontra pedindo ajuda a pessoa por pessoa. Por isso, por isso, não estar organizado representa uma pobreza.
Mas, ao mesmo tempo, se A transgredir uma norma ou costume, terá que pensar muito bem. Ao afetar muitos negativamente, sofrerá rejeição e/ou sanção social por parte de muitos. Portanto, A procurará controlar-se mais que B; podendo C se descontrolar socialmente com facilidade. A organização produz auto-regulação na sociedade.
Quando uma parte da sociedade tem um tecido sólido (mais organizações) e outras partes menos, a distribuição dos bens e serviços privados e coletivos (os direitos) tende a ser desigual.
A organização permite solucionar os conflitos produtivamente, sem violência. Faz do conflito uma oportunidade, pois permite estabelece regras para ceder e receber cessões; regras e critérios que, por serem respeitados por todos, permitem chegar a soluções equilibradas e de resultados relativamente permanentes. Normalmente, um conflito sem organizações conduz ao caos.
Quando falamos em organizações, referimo-nos a todo tipo de organização: desde o círculo de amigos que se reúne sistematicamente para jogar cartas ou fazer crochê até a organização política ou o movimento social.
Para solucionar problemas o alcançar objetivos em um lugar ou sociedade, em termo de transações, pode ser tão importante o clube de amarelinha quanto o conselho de administração de uma empresa ou de um movimento social. É necessário deixar de acreditar que só a organização política é importante (sem deixar de reconhecer a importância desta).”

O que podemos absorver deste texto, entre tantos conceitos, é a grande importância que a organização social tem para cada um de nós enquanto cidadão e, conseqüentemente, para a democracia. Quando um governo permanentemente atrai organizações e com estas mantém relacionamentos que distorcem as suas finalidades, está caracterizado o desejo de neutralização através da cooptação. Este relacionamento comumente surge de membros menos interessados na verdadeira “produtividade” da organização. São os chamados “pelegos”. Pessoas que, não raro, estão dispostas a negociar atribuições e metas por interesses pessoais. Cargos, dinheiro, vantagens pessoais ou para os seus próximos das mais variadas formas, etc.
Estamos dentro de uma organização social. Um partido político (união de partidários de um mesmo ideal que tem como objetivo o poder político) parte da sociedade que pensa em torno de um programa e segue um estatuto da agremiação partidária. E a primeira tarefa para que possa ser produtivo é saber a realidade local.
...Precisamos, então, entender de que forma as disputas eleitorais acontecem. O que motiva o voto de uma forma geral, o motivo de haver revezamento ou permanência de grupos. Saber mobilizar as autoridades responsáveis pela manutenção da legalidade toda vez que detectarmos qualquer tipo de fraude ou anormalidade, não apenas durante os pleitos, mas enquanto agremiação, cobrar lisura no trato da coisa pública. Para isso é preciso ter em mente que os governantes estão aquém da lei e que a transformação do público em privado é crime.
... Sentimento comum, os anseios e os reclames da comunidade têm que ser descodificados de maneira eficiente.
Observem que há muito se fala na necessidade de novas lideranças. Por que elas não surgem? Por que, quando aparece um ou outro no cenário, logo tende a reforçar um lado ou outro, quase nunca se formando novos grupos de pensamentos independentes?
Por que e pra que ser vereador em Campos?
Qual o papel que a câmara tem representado nas últimas décadas?
E aonde entra o instituto da família que falai antes? Exatamente na busca das substituições positivas. No arcabouço da sociedade que imaginamos, entendermos que hoje, só e somente só os partidos fortalecidos e ‘produtivos” verdadeiramente podem responder às agremiações similares (partidos que existem só para negócios de poder), porém de direito. Cartorial e burocraticamente eficientes.
E como começar a construir a mudança imediata?


(fragmentos de um encontro)

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Joca,
Ótimo texto! Proporciona um belo debate, afinal, esta é sem dúvidas uma grande pergunta: "E como começar a construir a mudança imediata?"
Em nossa cidade, além dos problemas típicos de uma sociedade capitalista, como pessoas individualistas e sem interesse pelo bem público; precarização da relação de trabalho; falta de capacidade de organização, temos outras características que dificultam ainda mais o surgimento de uma alternativa política na cidade, como por exemplo, uma mídia muito atrelada ao poder (em todos os sentidos) e uma população com baixo nível de instrução(conhecimento/cultura/formação técnica), apesar do chamado "polo universitário". Além disso, por meio da cooptação, associações, sindicatos e movimentos sociais da cidade deixaram de ser independentes e consequentemente fortes.
Mas, o maior dos problemas é sem dúvida a influência e os tentáculos que a maior liderança política desta cidade conseguiu construir. A força política e financeira que este grupo tem é capaz de impedir qualquer raio de esperança que possa surgir nesta planície.
Abs,
Paulo Sérgio

Anônimo disse...

O povo de nossa cidade troca o voto por qualquer coisa, seja emprego, seja favores, seja R$50,00. A compra de votos aqui é muito descarada e o MP nada faz. Veja o exemplo da última eleição, a compra de votos foi comprovada, mas os acusados foram apenas os peixes pequenos.
Campos é um circo!