"Para se tornar verdadeiramente grande, é preciso estar ao lado das pessoas, e não acima delas."
Montesquieu
Não muito raro tenho a mania de me retrair para refletir sobre o aprendizado em experiências acumuladas ao longo do tempo. Nem sempre me dou muito bem, principalmente quando esbarro em fatos onde poderia ter sido mais sereno em certas condições. Porém, atualmente, nada me incomoda mais do que ter sido, na maioria do tempo, solícito em excesso. Quantas vezes optei por me anular para deixar que amigos cabisbaixos se soerguessem...Quantas vezes fingi não saber a verdade enquanto ouvia mentiras e deformações da realidade que afetavam a minha própria existência ou dos meus para evitar constrangimentos. Quantas vezes me fiz de inferior para deixar que se pensassem fortes e absolutos...E continuo fazendo,parece que não tenho mesmo jeito!!! Mas, afinal, por que se permite que tantas pessoas assim cruzem os nossos caminhos? Difícil responder. Sem essa de para-raios. É permissividade sim.
Não é a toa que, ao ganhar ainda jovem, da então acadêmica de medicina Meire Moreno, O Estrangeiro, não me afastei mais do grande Albert Camus. Mais profundamente na sua capacidade de perceber que a humanidade se resolve por suas culturas e padrões, enquanto o universo nos ignora em nossa pequenez. Esta, com certeza, é a relevância que determinou e determina a inversão que me permiti diversas vezes. Parece até prepotência no primeiro momento. Mas não é. É indiferença ou talvez pena — um sentimento que comumente atravanca o desenvolvimento natural do ser pelas decisões de cunho mais sentimental (na qual se alia a vontade de ajudar à piedade) do que racional.
A ausência da racionalidade muitas vezes foi a minha aliada quando, pensando estar ajudando, tratava medíocres com as liturgias aplicadas aos mestres; reforçava, pelo meu silêncio cúmplice, a soberba destrutiva dos que se auto-julgavam ser o que nem passavam perto. Aplaudi lideranças inventadas que nasceram nas fantasias dos berços dourados onde apenas aprenderam a ser os príncipes encantados dos contos de fadas. E, aí, prejudicava os irrefletidos que pensavam ser alguém que nem trejeitos para tal tinham.
E o pior: quando se descobrem realmente, precisam de um bode expiatório para justificar seus arroubos fracassados — e o pobre do bode será responsável pela incompetência; pelas consequências da deformação social positiva, o estar bem com deus e com o diabo; com a auto-primazia que lhe conduziu à solidão radical ou a companheirismos convenientes. E por aí vai...
Mas como fazem bem estas pausas. Nem que sejam obrigatórias quando um pé entrevado por uma tendinite obriga a ficar parado. Estancado e dependente de muletas e bengalas. Mas aí é você com o seu próprio corpo. Sem envolver ou culpar ninguém, a não ser a sua responsabilidade pelo seu próprio sedentarismo. O bom é que o estancar do corpo deixa a cabeça distante do mundo lá fora e nos permite mergulhar num universo de experiências protegidas pela inviolabilidade de cada um.
Passam-me pessoas que não entendem que ao serem recebidas e tratadas com presteza em alguns locais em que tomei conta, imputam-me o que é dever de qualquer órgão.
E mais, as amizades anônimas que surgem quando em vez, nos mais distintos momentos, relatando ocasiões em que fui para eles "imprescindível", o que não é verdade, em situações que me orgulho de ter esquecido...
E a mim não chegam, mas permanecem, todos os que juntos formaram o mosaico que me compõe.
imagem: Dante e Virgílio no Inferno, quadro de William-Adolphe Bouguereau.
A ausência da racionalidade muitas vezes foi a minha aliada quando, pensando estar ajudando, tratava medíocres com as liturgias aplicadas aos mestres; reforçava, pelo meu silêncio cúmplice, a soberba destrutiva dos que se auto-julgavam ser o que nem passavam perto. Aplaudi lideranças inventadas que nasceram nas fantasias dos berços dourados onde apenas aprenderam a ser os príncipes encantados dos contos de fadas. E, aí, prejudicava os irrefletidos que pensavam ser alguém que nem trejeitos para tal tinham.
E o pior: quando se descobrem realmente, precisam de um bode expiatório para justificar seus arroubos fracassados — e o pobre do bode será responsável pela incompetência; pelas consequências da deformação social positiva, o estar bem com deus e com o diabo; com a auto-primazia que lhe conduziu à solidão radical ou a companheirismos convenientes. E por aí vai...
Mas como fazem bem estas pausas. Nem que sejam obrigatórias quando um pé entrevado por uma tendinite obriga a ficar parado. Estancado e dependente de muletas e bengalas. Mas aí é você com o seu próprio corpo. Sem envolver ou culpar ninguém, a não ser a sua responsabilidade pelo seu próprio sedentarismo. O bom é que o estancar do corpo deixa a cabeça distante do mundo lá fora e nos permite mergulhar num universo de experiências protegidas pela inviolabilidade de cada um.
Passam-me pessoas que não entendem que ao serem recebidas e tratadas com presteza em alguns locais em que tomei conta, imputam-me o que é dever de qualquer órgão.
E mais, as amizades anônimas que surgem quando em vez, nos mais distintos momentos, relatando ocasiões em que fui para eles "imprescindível", o que não é verdade, em situações que me orgulho de ter esquecido...
E a mim não chegam, mas permanecem, todos os que juntos formaram o mosaico que me compõe.
imagem: Dante e Virgílio no Inferno, quadro de William-Adolphe Bouguereau.
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