terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Descartabilidade: Luís Maurício, um jornalista abandonado


Talvez me abalasse se desconhecesse a necessidade do uso de inocentes úteis, ou nem tanto, pela manutenção inerte da convivência, ou mais grave, do poder. Talvez suporia que as amizades torna-se-iam eternas pelas dificuldades vivenciadas em coro ou pela simplicidade da amizade que bastasse em qualquer momento. Mas não é verdade.

Sejam operários, patrões, ladrões ou qualquer um.  O relacionamento da amizade está ligado a uma gama de interesses que peculiarmente remete ao individual. Por isso, talvez, a grande aproximação temporária de indivíduos quando gozam de fatores que oportunizem ou possam oportunizar sonhos. Mesmo que estes sabidamente sejam temporários.

A ciência social e psiquiátrica não consegue vislumbrar a hipótese da dependência de um amigo por outro. Porém sabe claramente distinguir as anomalias psiquiátricas e psicossociais dos neuróticos que se oportunizam em sonho de serem, aproveitando o momento, o papa.

Hoje Campos sofre a semiperda de um dos melhores profissionais da comunicação que, advertidamente ou não, cumpriu sua missão de informar. Independente da minha posição acerca das suas tarefas extrajornalísticas. Penso no Luís Maurício, amigo de poucas oportunidades, mas que o respeito que lhe dedico cabe a sua dedicação e lisura. Amigo de tantos amigos — ou vítima do sonho do poder inoportuno, quando julgavam-lhe adversário, mas antes amigo fiel no mesmo campo de batalha —, vê-se motoramente impossível de responder às suas vontades cerebrais. Suas mãos não servem mais aos seus patrões e nem os amigos lhe visitam. Mas que amigos são esses? Os que sempre usaram e abusaram da sua capacidade simplista e elegante de proteger os seus súditos. Aí estava o seu erro. Ou não.

A realidade fala mais alto do que qualquer evidência inócua que possamos imaginar. Ele está derramado, vítima de um AVC, é claro, e com poucos amigos. E com pouca proteção. E sem ser lembrado — aquele corpo gordo e bonachão que nunca disse não jogado na cama. Chorando e rindo e se engasgando quando fica mais triste do que feliz, mesmo quando quer omitir a sua dor.

É a solidão profícua dos que não se revolucionaram. Sei bem. É e deveria ser o final de todos. A solidão. Mas Luís Maurício e nem sua esposa merecem o desreconhecimento de todos que lhe usaram. Confesso que nunca lhe dediquei amizade pessoal porque nunca, nos nossos contatos, girino virou sapo. Mas sei o respeito e dedicação que ele tem pelas suas funções e o trato, mesmo que truculento, elegante que lhe transformava. Aos seus amigos cobro essencialmente a amizade.

A todos que com ele degustaram os sonhos da vida, em qualquer sentido seja, visitem-no. Deem-lhe a mão, vejam o que ele precisa. Sejam amigos da sua esposa. Fale, sindicato, AIC, amigos...

Que merda é saber que alguém do jornalismo, que tanto serviu à manutenção da nebulosa passagem de um poder atemporal, associal, desconstrutivo, mas que além de tudo manteve a fidelidade pelas necessidades de sobrevivência numa cidade onde o jornalista precisa claramente se vender ao poder para esquecer suas missões básicas, nem que lhe baste a vida — a informação. Está esculhambado sem nenhum tipo de amigo, assistência (com exceção da família), povo com o qual ele tanto se comunicou aos sábados pelos programas de radiocomunicação...

Embora não sendo seu melhor amigo, sinto vergonha de vocês que conviveram e o exploraram na sua convivência e profissionalismo. Não cito nomes, embora saiba, para não criar um clima pessoal. Mas cada um sabe a que me refiro. Curtam suas riquezas, ignomínias e artimanhas palacianas. Outra metade está em suas casas, curtindo o passado que lhes oportunizaram as mesmas vantagens de hoje, mesmo nas agonias dos que não quase conseguem respirar.

Não vou dizer te amo, mas aceite o meu respeito e a minha repulsa pelo abandono que sofres, pelas lágrimas que lhe irrigam a face, pela falta de dinheiro que já era fatal. Ao conversar com seu amigo, não poderia jamais deixar de escrever este bilhete. E bilhete pra quem? Pra todos os filhos da puta que lhe, oportunamente, utilizaram e que hoje, ou não, desfrutam do trabalho teu.

Sem compromisso, um abraço.

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