Talvez me
abalasse se desconhecesse a necessidade do uso de inocentes úteis, ou nem
tanto, pela manutenção inerte da convivência, ou mais grave, do poder. Talvez
suporia que as amizades torna-se-iam eternas pelas dificuldades vivenciadas em
coro ou pela simplicidade da amizade que bastasse em qualquer momento. Mas não
é verdade.
Sejam
operários, patrões, ladrões ou qualquer um.
O relacionamento da amizade está ligado a uma gama de interesses que
peculiarmente remete ao individual. Por isso, talvez, a grande aproximação
temporária de indivíduos quando gozam de fatores que oportunizem ou possam
oportunizar sonhos. Mesmo que estes sabidamente sejam temporários.
A ciência
social e psiquiátrica não consegue vislumbrar a hipótese da dependência de um
amigo por outro. Porém sabe claramente distinguir as anomalias psiquiátricas e
psicossociais dos neuróticos que se oportunizam em sonho de serem, aproveitando
o momento, o papa.
Hoje
Campos sofre a semiperda de um dos melhores profissionais da comunicação que, advertidamente
ou não, cumpriu sua missão de informar. Independente da minha posição acerca
das suas tarefas extrajornalísticas. Penso no Luís Maurício, amigo de poucas
oportunidades, mas que o respeito que lhe dedico cabe a sua dedicação e lisura.
Amigo de tantos amigos — ou vítima do sonho do poder inoportuno, quando
julgavam-lhe adversário, mas antes amigo fiel no mesmo campo de batalha —,
vê-se motoramente impossível de responder às suas vontades cerebrais. Suas mãos
não servem mais aos seus patrões e nem os amigos lhe visitam. Mas que amigos
são esses? Os que sempre usaram e abusaram da sua capacidade simplista e
elegante de proteger os seus súditos. Aí estava o seu erro. Ou não.
A
realidade fala mais alto do que qualquer evidência inócua que possamos
imaginar. Ele está derramado, vítima de um AVC, é claro, e com poucos amigos. E
com pouca proteção. E sem ser lembrado — aquele corpo gordo e bonachão que
nunca disse não jogado na cama. Chorando e rindo e se engasgando quando fica
mais triste do que feliz, mesmo quando quer omitir a sua dor.
É a
solidão profícua dos que não se revolucionaram. Sei bem. É e deveria ser o
final de todos. A solidão. Mas Luís Maurício e nem sua esposa merecem o
desreconhecimento de todos que lhe usaram. Confesso que nunca lhe dediquei
amizade pessoal porque nunca, nos nossos contatos, girino virou sapo. Mas sei o
respeito e dedicação que ele tem pelas suas funções e o trato, mesmo que
truculento, elegante que lhe transformava. Aos seus amigos cobro essencialmente
a amizade.
A todos
que com ele degustaram os sonhos da vida, em qualquer sentido seja, visitem-no.
Deem-lhe a mão, vejam o que ele precisa. Sejam amigos da sua esposa. Fale,
sindicato, AIC, amigos...
Que merda
é saber que alguém do jornalismo, que tanto serviu à manutenção da nebulosa
passagem de um poder atemporal, associal, desconstrutivo, mas que além de tudo
manteve a fidelidade pelas necessidades de sobrevivência numa cidade onde o
jornalista precisa claramente se vender ao poder para esquecer suas missões
básicas, nem que lhe baste a vida — a informação. Está esculhambado sem nenhum
tipo de amigo, assistência (com exceção da família), povo com o qual ele tanto
se comunicou aos sábados pelos programas de radiocomunicação...
Embora
não sendo seu melhor amigo, sinto vergonha de vocês que conviveram e o
exploraram na sua convivência e profissionalismo. Não cito nomes, embora saiba,
para não criar um clima pessoal. Mas cada um sabe a que me refiro. Curtam suas
riquezas, ignomínias e artimanhas palacianas. Outra metade está em suas casas,
curtindo o passado que lhes oportunizaram as mesmas vantagens de hoje, mesmo
nas agonias dos que não quase conseguem respirar.
Não vou
dizer te amo, mas aceite o meu respeito e a minha repulsa pelo abandono que
sofres, pelas lágrimas que lhe irrigam a face, pela falta de dinheiro que já
era fatal. Ao conversar com seu amigo, não poderia jamais deixar de escrever
este bilhete. E bilhete pra quem? Pra todos os filhos da puta que lhe,
oportunamente, utilizaram e que hoje, ou não, desfrutam do trabalho teu.
Sem
compromisso, um abraço.
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