Jamil Chade - O Estado de S.Paulo - 21.01.11
Cientistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertam que os governos do Brasil e, principalmente, dos Estados do Sudeste devem se preparar para enfrentar eventos climáticos extremos nos próximos anos. "Esse não foi um evento isolado (a devastação na região serrana do Rio). Os acontecimentos no Brasil confirmam uma tendência mundial de que tempestades tendem a ser cada vez mais fortes e em locais onde não ocorriam com a mesma força", afirmou Rupakumar Kolli, especialista da OMM.
A entidade diz que ainda não pode confirmar se a intensidade das chuvas no Rio foi causada diretamente pelas mudanças climáticas que afetam o planeta, mas tudo indica que sim. "É difícil dizer se as mudanças climáticas já atuam nesse caso", afirmou o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud. "O que está claro é que vemos um aquecimento do planeta e um número cada vez maior de eventos climáticos extremos e o que aconteceu no Brasil vai nessa direção."
"Governos precisam entender que esses fenômenos vão se repetir. Essa é a tendência que vemos em todo o mundo, com chuvas mais intensas em locais que não conheciam eventos tão drásticos", ressaltou Kolli. "O governo brasileiro precisa lidar com a vulnerabilidade de suas populações nas áreas de risco porque podemos dizer quase com certeza que novos eventos extremos vão ocorrer."
O Ártico canadense é uma das regiões que registram recordes de temperatura nos últimos anos
A temperatura média registrada no planeta em 2010 se igualou às de 2005 e 1998, que foram os anos mais quentes da história, o que confirma mais uma vez o fenômeno do aquecimento global e aumenta a possibilidade de que os desastres naturais aumentem em intensidade e frequência.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou os dados nesta quinta-feira (20). A temperatura global média no ano passado foi 0,53°C superior a um período de referência adotado pela instituição científica que vai de 1961 a 1990. Em relação a 2005, foi 0,01°C maior e, em comparação com 1998, 0,02°C. Essas pequenas diferenças estão dentro da margem de erro dessas estatísticas (de 0,09°C para mais ou para menos) e, por isso, as temperaturas são consideradas recordes nos três anos.
Na última década, as temperaturas globais médias ficaram 0,46°C acima do que foi observado entre 1961 e 1990. O aquecimento global recente é mais acentuado na África, partes da Ásia e do Ártico, com algumas regiões registrando temperaturas de 1,2°C a 1,4°C acima da média ao longo dos anos. Os dez anos mais quentes desde que existem estatísticas a respeito ocorreram a partir de 1998, afirmou o diretor-geral da OMM, Michel Jarraud.
O gelo no Ártico em dezembro atingiu a menor cobertura da história, com uma extensão média mensal de 12 milhões de quilômetros quadrados, 1,35 milhão de quilômetros quadrados a menos do que a média para o último mês do ano entre 1979 e 2000. Em 2010, o gelo do Ártico perdeu uma área maior que o Estado de São Paulo.
Jarraud disse que o aquecimento global é um fato que ninguém mais pode negar e que a novidade é sua clara tendência a se reforçar ano a ano.
Não é apenas recordes de calor que têm sido batidos. Em algumas áreas, como no norte e no oeste da Europa, os termômetros marcaram, em dezembro, recordes de mais baixas temperaturas. Na Noruega e na Suécia, em alguns locais, houve frio de até 10°C abaixo da média. No centro da Inglaterra, foi o dezembro mais frio desde 1890. Tempestades de neve causaram caos nos transportes na Europa. Na Rússia e nos Estados Unidos também houve nevascas muito fortes.
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