terça-feira, 3 de novembro de 2009

Um artigo do baiano, Luiz Bassuma


ONDA VERDE
A utopia suplantando a máquina.
O jardim no lugar do deserto.

Precisamos diferenciar um processo político natural de um fenômeno
político, o primeiro lógico e esperado. O segundo, sempre
surpreendente para a grande maioria das pessoas.

Os processos naturais são de fácil percepção e explicação, pois
resultam da acumulação de forças materiais, ao longo do tempo. Já os
fenômenos políticos quase nunca são percebidos enquanto estão
acontecendo. Suas causas e seus elementos de formação não seguem
nenhuma lógica previamente conhecida e sempre são mais espirituais que
materiais funcionando como uma ONDA.

Em nossa recente história republicana, a ditadura militar período mais
triste e violento de interrupção da democracia que perdurou entre 1964
e 1985, forças conservadoras organizadas na ARENA se locupletaram
política e economicamente das benesses do poder, fechando os olhos
para as torturas, exílios, prisões e mortes políticas do regime
militar.

Em contraposição a este agrupamento de direita que depois passaria a
usar a siglas PDS e PFL, políticos favoráveis à democracia tiveram que
se reunir em torno do MDB para lutar, pacificamente, pelo fim da
ditadura e o retorno à normalidade do estado de direito.

Ocorre então um destes fenômenos que se comportam como uma ONDA. Em
1986, ainda sem eleição direta para Presidente da República, o agora
PMDB consegue eleger todos os governadores do Brasil, com exceção de
Sergipe. Na Bahia foi eleito Waldir Pires quebrando um ciclo de poder
da direita comandado por Antônio Carlos Magalhães durante mais de 20
anos.

Em 1989, na primeira eleição presidencial, o PT, criado em 1980 ainda
era um partido muito pequeno se comparado ao PMDB, mas quase consegue
eleger LULA que perde para Collor no 2º turno por diferença de apenas
4% dos votos.

O PMDB passa por um processo acelerado de descaracterização como
partido de mudanças com dissidências que levam ao surgimento de um
novo partido de centro o PSDB. Mas é o PT que passa a ocupar o espaço
deixado pelo velho MDB, empunhando firmemente a bandeira de duas
UTOPIAS: ética na política e coerência de princípios.

Em 2002 acontece mais um fenômeno, a chamada ONDA VERMELHA que elege
LULA presidente, vários governadores, senadores e a maior bancada de
deputados federais do Congresso. Assim como o PMDB, o PT a partir daí
começa a se descaracterizar como partido comprometido com mudanças
estruturais, acomodando-se ao velho e arcaico sistema sustentado pelas
oligarquias brasileiras. Começam a sair de partido, importantes
lideranças, como a senadora Heloisa Helena que funda um novo partido,
o PSOL.

Vem depois o deprimente episódio do mensalão em 2005, expondo as
vísceras de um pequeno grupo de pessoas influentes no partido,
comandadas por José Dirceu, alguns dos sinais visíveis desta acelerada
descaracterização.

Um dos preços que o sistema exigiu para que Lula continuasse
realizando um bom governo e conquistando um nível de popularidade
inédito na história brasileira e quem sabe mundial foi a destruição do
seu próprio partido o PT preferindo a aliança com o PMDB de José
Sarney, um dos últimos coronéis remanescentes da velha ARENA. Exemplo
mais recente deste processo de envelhecimento precoce foi a atitude
patética do Senador Aloísio Mercadante eleito com 10 milhões de votos
em São Paulo ao anunciar da tribuna do Senado sua saída irrevogável da
liderança do partido num dia e voltar atrás no outro dia depois de ler
uma cartinha enviada por Lula, pedindo a sustentação de Sarney.

É inquestionável que Lula faz um bom governo, mas poderia fazer muito mais.

Ao tentar justificar a inaceitável aliança com Collor, Sarney, Renan,
Barbalho e Maluf usa uma de suas metáforas mais infelizes ao dizer,
que se Jesus governasse o Brasil e Judas tivesse votos, ambos teriam
que fazer uma aliança para gorvernar.

O PT hoje foi rebaixado ao nível dos demais partidos que existem
apenas como instrumento da conquista do poder pelo poder. Perdeu sua
alma, apequenou-se na lógica dos acordos espúrios e dos negócios
escusos onde a ética foi jogada no lixo. Assim como FHC fracassou,
refém de sua vaidade, Lula também está fracassando como líder de uma
nação que espera por sua libertação do câncer da corrupção.

O Brasil tem missão planetária a cumprir neste século XXI. Por suas
inesgotáveis riquezas naturais e energéticas e pelas características
especiais de seu povo, precisa funcionar como a primeira superpotência
da história da humanidade a não explorar os mais pobres e mais fracos
e sim ajudá-los em seu desenvolvimento, começando pela América Latina
e continuando no continente Africano.

Surge então Marina Silva, preparada pela vida para exercer seu papel
na história com humildade, inteligência, sensibilidade e
determinação. Tem o perfil de líder da nova era do desenvolvimento
sustentável onde mais importante que o PIB é a qualidade de vida das
pessoas.

O Partido Verde durante décadas foi visto com muita simpatia pela
sociedade, mais como uma ONG do que como um partido político. Depois
de um século de abuso do sistema capitalista que em nome de um
consumismo desenfreado agrediu, poluiu e destruiu a natureza, esta
sociedade começa a sentir os efeitos desta insanidade com o
aquecimento global.

Isto passa a pautar a na agenda mundial como prioridade máxima, como
construção de acordos para redução da emissão de CO2, evitando
catástrofes climáticas já anunciadas. Tal desafio coloca o Partido
Verde como alternativa concreta de poder no Brasil.
Parte expressiva da nossa sociedade frustrada com a grande maioria dos
políticos, não deseja renunciar aos seus sonhos e abandonar a maior
das utopias que idealiza um mundo bem melhor e mais justo que este.

A responsabilidade com o futuro do planeta e da própria humanidade
exige muita ousadia para enfrentar um sistema velho, ainda forte, mas
em decadência acelerada.

Numa das mais belas músicas brasileiras, intitulada “Tente Outra Vez”,
Raul Seixas canta num de seus versos que “basta ser sincero e desejar
profundo; você será capaz de sacudir o mundo”.


A utopia suplantará a máquina. O jardim substituirá o deserto. Uma
onda verde começa a surgir no horizonte e pacificamente convida
homens e mulheres de boa vontade a se levantar, pois como toda onda
transformadora crescerá e arrastará consigo tudo aquilo que se opõe ao
BEM e à VERDADE.

Não temos mais tempo a perder e nem o direito de cometer o pior dos
erros, o da OMISSÃO.

2 comentários:

Anônimo disse...

O artigo é bom, mas deveria ser mais claro sobre qual a forma que o PV pretende alcaçar o poder, mas, talvez esta também não era a intenção do artigo.
Quero dizer, é como o PV vai se comportar em termos de alinças para as próximas eleições? Vai dar palanque pro Serra na Rio? Vai fechar com PSDB e com o Demo? Concordo com a "onda verde", mas acho que sem alinças o PV não vai lognge. A política hoje é assim, seja um como alcaçar com poder, por mais que não concordamos.

Anônimo disse...

Caro Joca,
Muito bom o texto, acho que esclareceu algumas dúvidas que tinha quanto ao PV, porém, outras dúvidas ainda persistem...
Por mais que a possibilidade de aliança com o PSOL mostre uma tendência do PV "mais à esquerda", acredito que falta ao partido - talvez isso será feito mais próximo das eleições - se situar sobre o que acho que será um dos grandes temas em debate nas próximas eleições: a intervenção do estado na economia e no social. Em resumo, o PT mostrou que o estado deve ser mais interventor, enquanto que o PSDB tentou diminuir ao máximo a participação do estado na sociedade, abrindo consequentemente, espaço para a iniciativa privada...
Pra finalizar, gostaria de parabenizá-lo pelo seu Blog, ele está sendo um ótimo campo de debate, principalmente sobre o PV, partido que tem tudo para crescer nas próximas eleições.
Abs
Gabriel