Institutos de pesquisa ligados àmídia conservadora, Ibope e Datafolha iniciaram, há alguns dias, uma série de sondagens junto à opinião pública em relação a quem a maioria do eleitorado gostaria de ver no lugar da atual presidenta, Dilma Rousseff, em outubro do ano que vem. Cerca de 20 meses, portanto, da data das eleições. A discussão, aos olhos do leitor mais atento, sugere o que na verdade ela é: estéril e manipuladora. Interessa apenas e tão-somente às hordas reacionárias que perderam as eleições no ano passado, há nem seis meses, para ser exato. A tentativa de se adiantar o calendário eleitoral foi a forma encontrada pelas forças antidemocráticas, que comandam a imprensa extensiva, de evitar uma reflexão maior sobre a derrota fragorosa das trevas, nos maiores centros urbanos do país. À exceção do neto de ACM, em Salvador, nenhum outro expoente da extrema-direita conseguiu convencer o eleitor que era melhor para o país a fórmula aplicada à política brasileira no período pós-ditatorial do neoliberalismo, encerrado com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no início deste século.
Nas demais cidades, salvo aquelas que subsistem sob os domínios da direita mais arraigada, atoladas no lodo do conservadorismo extremado, a leve brisa dos governos populares começa a soprar, a expulsar a poeira que restou dos atos ditatoriais, acumulada sobre a estante de livros outrora impensáveis, como aquele que desvenda o saque e os assassinatos patrocinados pelas forças de ocupação, durante os Anos de Chumbo, e mesmo após o fim dos militares no comando, na onda de privatizações que exauriu a economia do país. Quanto mais se desvenda a participação civil no golpe militar de 64 – a exemplo da extinta Panair – no trabalho minucioso realizado pela Comissão Nacional da Verdade, mais arejada é a sociedade brasileira. E menos espaço nas urnas resta aos antigos detentores de um poder ancestral, que remonta a UDN, a Arena e, por fim, DEM, PSDB, o recém-criado PSD e uma miríades de associações anãs, mas não menos virulentas.
A linha patrimonialista das elites brasileiras, no entanto, esta sobrevive mais revigorada do que nunca, aninhada sob as espaçosas asas da chamada ‘base aliada’, que sustenta o governo frágil, mas bem intencionado, da presidenta. Ficou assim: enquanto ela não incomodar os donos das fortunas amealhadas durante os séculos de espoliação dos trabalhadores, em nome da família, tradição e propriedade, conseguirá ir em frente, em um esforço absurdo para reduzir a miséria no Brasil. Cada passo, no sentido de levar a cidadania e o direito a viver feito gente, e não igual a bicho, a todos os brasileiros, é uma vitória imensa contra o domínio cruel dessa gente endinheirada, egoísta, gananciosa, que ocupa o poder de facto no país. Reduzir os juros de níveis alucinados para escorchantes já foi motivo de uma comemoração sem precedentes nas salas refrigeradas do Banco Central. Manter e ampliar programas sociais como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida, contam quase como a conquista da Taça Jules Rimet.
Não é exagero dizer que as grandes fortunas brasileiras, como observou um graduado desembargador do Estado do Rio de Janeiro, “foram embora faz tempo”. Estão abrigadas nos paraísos fiscais e, seus proprietários, em apartamentos de luxo na Avenue Foch, em Paris, ou outro endereço elegante qualquer em Nova York, Londres etc. Colocaram-nas a salvo do fisco e das intempéries políticas que, mais dia, menos dia, vai levar aquela brisa socialista aos mais recônditos vilarejos. É questão de tempo, e eles sabem disso. O desespero já é visível. Chegam a fazer manobras ousadas em campos minados como o Judiciário, em uma sanha que a História se debruçará sobre o episódio, em breve, para desvendar os meandros que sincronizaram o julgamento da Ação Penal 470 e o calendário eleitoral do ano passado, com a precisão dos maias sobre o universo. E, obviamente, rever uma a uma das sentenças propaladas para, mais uma vez, o país fazer aquele papel de republiqueta das bananas, perante uma corte internacional.
Matreiros que são, os artífices do conluio entre os velhos militares, as classes dominantes e a imprensa maniqueísta que as atende buscam alternativas para se manter no domínio da planície fértil e tentar deter, nas montanhas da indignação, aqueles guerrilheiros que lutam por um país mais justo e igualitário. Sabem que o fim deste Estado, benevolente com os ricos e mortal para para os pobres, está mais próximo do que podem imaginar. A América Latina socialista está aí para não deixá-los dormir sossegados. Portanto, agradeço aos leitores que apoiam o Correio do Brasil por evitar as matérias que atendam a esse jogo estúpido, de se tentar antecipar as eleições marcadas para daqui a quase dois anos. Acreditamos que esta é a fronteira que divide os jornais independentes dos diários amestrados.
Preferimos cobrir o dia a dia real à república imaginária que amanhece estampada nas capas damídia conservadora. Optamos por noticiar o Brasil da maioria dos brasileiros, sob a ótica dos índios na Aldeia Maracanã, que apanharam feio do aparato repressivo; jamais sob o ponto de vista dos coturnos dos agressores. Em vez de fazer exercício de futurologia em pesquisas de encomenda, levamos aos nossos leitores a realidade que os meios de comunicação identificados com o capital internacional tentam esconder, a qualquer preço.
Edital do Correio do Brasil, por Gilberto de Souza, jornalista e seu editor-chefe.
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