quarta-feira, 19 de maio de 2010

Marina Silva escreve sobre desastre ambiental da British Petroleum

HÁ QUASE um mês estamos assistindo, no golfo do México, ao pior desastre ambiental da história recente. A explosão da plataforma de petróleo da empresa British Petroleum (BP), que matou 11 pessoas, vem despejando quantidade incalculável – já se fala em 800 mil barris diários – de óleo cru e tóxico no oceano. E não se consegue conter o derrame.

O golfo do México é habitat de milhares de espécies, como a baleia cachalote, tartarugas marinhas e o atum azul, em extinção. Nessa área, a indústria pesqueira arrecada bilhões de dólares por ano. Só o Estado de Louisiana abriga 40% dos pântanos e mangues norte-americanos.

Mesmo com o pagamento de indenizações, as perdas em biodiversidade e os prejuízos econômicos e sociais são irreparáveis. Repete-se, aumentado, o pesadelo de 40 anos atrás, no Alasca, quando o naufrágio do navio Exxon Valdez derramou 250 mil barris de petróleo numa área particularmente sensível. Em casos como esses, é impossível quantificar o dano e recuperar de forma adequada os ecossistemas.

As petrolíferas têm intensificado a exploração de petróleo em águas profundas, o que requer altíssimos investimentos e capacidade tecnológica. Que, mais uma vez, se mostram insuficientes. Os riscos não foram efetivamente considerados, como constatou o presidente Barack Obama ao criticar a licença ambiental concedida à BP.

Ao mesmo tempo, o Congresso americano se prepara para revisar a legislação e tornar as medidas de segurança mais severas.

O Brasil tem que prestar enorme atenção a tudo isso, nesses tempos de expectativas pela exploração dos megacampos da camada de pré-sal. E é preciso que a sociedade tenha conhecimento não só dos benefícios mas também dos riscos dessa exploração, para que exija os cuidados preventivos necessários.

A discussão da partilha dos royalties e o desafio tecnológico que se coloca para a Petrobras são inseparáveis das providências de proteção ambiental.

É hora de pensar no licenciamento ambiental não como estorvo, como muitos fazem, mas como instrumento de defesa dos interesses da sociedade e do planeta. Esse mesmo licenciamento, tão atacado, desqualificado e negligenciado por setores do próprio governo, é a garantia para calcular riscos e prevenir ou minimizar acidentes.

Menosprezá-lo, tentar irresponsavelmente transformá-lo em ficção ou jogar para o futuro uma promessa mistificadora de que a tecnologia tudo resolverá pode causar danos irreparáveis. Adotar o princípio da precaução, por outro lado, é, hoje em dia, um seguro inescapável para o desenvolvimento. Que o diga Obama.

Publicado originalmente na Folha de S. Paulo em 17/05/2010

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E mais:

BP: Do Golfo do México para a costa do Brasil
Por Railton 04/05/2010 às 12:45

A BP, que emporcalhou o Golfo do México no pior desastre ambiental dos Estados Unidos, acaba de fechar acordo de US$ 7 bi com o Brasil

A British Petroleum (BP) a mesma da plataforma que explodiu e que ainda não conseguiu deter o vazamento do óleo que compromete fauna e flora marítimas em toda costa sul dos Estados Unidos, confirmou que começará a prospectar águas profundas ao largo da costa brasileira.

O acordo já assinado de US$ 7 bilhões para a aquisição dos ativos internacionais de petróleo e gás da Devon, alardeado pela midia como altamente benéfico aos brasileiros, pode comprometer um dos maiores patrimônios em diversidade biológica, a costa brasileira.

De olho no incalculável lucro da exploração do chamado pressal brasileiro, uma serra pelada petrolífera que pode abrigar até 80 bilhões de barris de petróleo, diversas empresas ocidentais formaram parcerias com a Petrobras a fim de prospectar e desenvolver campos na região.

O acordo com a americana Devon, que detém licenças para prospectar seis blocos em parceria com a Petrobras, na "mais promissora das 'áreas offshore' brasileiras", provê à Britsh Petroleum (BP) uma rota mais rápida e direta para o país.

A triste realidade é que o Brasil, aos olhos dos barões da indústri petrolífera, não passa de uma boa oportunidade de abarrotar ainda mais seus cofres pela exploração do ouro negro, indiferentes ao potencial risco ecológico, uma vez que qualquer acidente é integralmente coberto pela seguradoras.

Toda a costa do Brasil, de norte a sul, há 500 anos saudada pelos poetas pelos seus encantos e maravilhas, pode transformar-se rapidamente em um grande, e fedorento Golfo do México, coberto por imensas manchas de óleo. Ambientalistas temem que a ambição do governo brasileiro e das empresas petrolíferas crie problemas irreversíveis ao turismo e à pesca devido a potenciais acidentes com plataformas petrolíferas.

Com o acordo com a Devon a BP pretende ampliar, apesar do acidente no Golfo do México, suas operações no golfo do México e no Azerbaijão.

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