terça-feira, 14 de agosto de 2012

Histórias não contadas da UENF - I


Lembro-me como se fosse agora a entrada da secretária geral da Casa de Cultura Villa Maria em minha sala anunciando o telefonema de um dos diretores da Fenorte, então mantenedora da Uenf. Salvo engano o seu nome era Antônio Luiz. Mandei que transferisse para a minha mesa. Esperava com certeza mais uma negativa para algum dos meus projetos culturais, haja vista que a minha postura à frente da CCVM distoava do tom academicista que a presidente da mantenedora julgava imprescindível para emprestar a seriedade que se supunha indispensável.

Foi um grande engano. Na verdade, ouvi do outro lado da linha uma voz calma e muito solícita - e é claro que estranhei. Tratava-se de uma solicitação e, por isso, talvez, a ausência do autoritarismo comum daquela gestão. Estava prestes a esgotar algum prazo junto ao Ministério da Educação para que a universidade mantivesse ou garantisse o seu registro. Para tal era necessário que ela tivesse no mínimo um imóvel próprio. O que não acontecia, pois o campus estava em fase de quitação por desapropriação e a Villa Maria ainda pertencia à Prefeitura de Campos. O pedido: "Você não é amigo do prefeito. Nós estamos numa situação a qual, imagino, só ele poderá nos ajudar. Tem como pedir para passar a escritura da Villa pra Fenorte?" - o prefeito da época era o jornalista Sérgio Mendes, realmente uma pessoa que, mesmo no cargo, nunca se distanciou dos seus companheiros e do seu estilo simples de viver. Embora de orientações políticas bastante diferentes, nunca nos furtamos a uma boa amizade. Porém, a presidente da Fenorte não nutria também por ele nenhuma simpatia.
Jamais me negaria a tentar resolver a situação. Pedi algumas horas para retornar, com certeza com uma posição positiva, já que sabia do desprendimento do Sérgio e da sua capacidade de superar questiúnculas pessoais em favorecimento da causas mais nobres. Não tive muito sucesso em falar diretamente com o prefeito, mas o seu chefe de gabinete era o grande parceiro e amigo, o doutor-professor Hélio de Freitas Coelho - o nosso Helinho. Logo que lhe perguntei ao telefone se teria uns minutinhos para conversarmos, tive dele a já esperada resposta: "É só vir aqui a hora que você quiser... " Como a Casa Rosada, então sede do Executivo Municipal, era ao lado da Villa, na Alberto Torres, em dois minutos já estava me anunciando na recepção e, em não mais tempo, já narrava ao Helinho acerca da necessidade da UENF. Imediatamente entrou em contato com o Sérgio, que se encontrava no Rio de Janeiro marcando um encontro em sua casa à  noite.
Depois do jornal da noite atravessamos a ponte para Guarus e a noite foi uma das mais agradáveis. Afinal era de trabalho mas também oportunidade de rever amigos e amigos amigos dos amigos. Uma recepção maravilhosa em torno de uma piscina foi suficiente para o prefeito nos autorizar a imediata documentação para a transferência daquele então próprio municipal definitivamente para a Uenf. No outro dia, com a vasta capacidade e conhecimento de Helinho, toda a documentação já seguia para o cartório do Lilito, que em tempo recorde agilizou tudo.
Assim, graças ao alto grau de sensibilidade de Sérgio, da prestimosa atenção de Helinho e da agilização do Cartório de Lilito, a Uenf pôde se ver livre daquele "problemão". O pior, se tiver saco conto depois. É sobre a solenidade de transmissão que preparei no jardim da Villa. Na lateral que faceia a Gil de Góis. Aí, malandro, nem maluco aguenta!!!...

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