Balouçando
sob o vento nordeste, girassóis resplandeciam ao sol e enchiam de brilho a
chácara onde foram plantados no subdistrito de Guarus. A lavoura aguçava a
curiosidade dos vizinhos e estendia-se por mais de um alqueire de terras do
calculista, matemático e engenheiro Gil Terra.
Gil, homem impulsivo, empreendedor, que ocupava a
vanguarda de sua época, tanto sobre as planchetas de cálculos aritméticos como
na vida comum, tinha determinado o plantio da flor. Andava, girava, ele sempre
surpreendia a família com novidades de gosto extravagante.
Enquanto
os prédios subiam pela lavra dos operários contratados para dar forma às suas
criativas plantas, o engenheiro cuidava das viagens à fazenda de café da
família em Minas Gerais e da casa de veraneio em Atafona, praia do seu coração.
As atividades não preenchiam o vazio do seu tempo. Estava permanentemente à
procura de coisas novas para fazer. De certa feita ouviu um amigo do norte
falar das vantagens de criação dos papagaios falantes. Colocou de lado o
criatório de peixes ornamentais Gupis, o adestramento de cães policiais de seu
canil e iniciou o cultivo do papagaio Jandaia da Testa Vermelha, conhecido por
Chauá, encontrado na Mata Atlântica e do papagaio Verdadeiro, denominado
Aestiva, habitante da região amazônica.
Um
dos viveiros foi colocado no sítio de Guarús, enfrente ao Aeroporto Bartolomeu
Lizandro e outro em sua casa de praia no município de São João da Barra. A
comida preferida das aves coloridas era a semente de girassol. Na época, rareou
no comércio de Campos a ração dos falantes de penas. O empregado Osvaldo
comunicou o fato ao patrão: “Dr. Gil, já estive em todas as lojas da cidade e
não consigo comprar a comida dos bichos. Seu Décio Luzitano, lá da Gaiola de
Ouro, falou que está havendo falta da semente de girassol no Brasil.” Homem de
soluções, imediatamente, Gil comprou em São Paulo as sementes do vegetal e
determinou o plantio na área de seu sítio em Campos dos Goytacazes.
O
possante trator Massey Fergusson 75 cortou e recortou a terra para receber a plantação e os passantes pouco
tempo depois testemunharam o belo espetáculo de encher os olhos de admiração.
Os vizinhos, fartos da lavoura de canas, cujos preços pagos pelas usinas se
encontravam aviltados, viram uma excelente oportunidade de aventurar no negócio
do Dr. Gil, pois, em tudo que o vizinho botava a mão, florescia o lucro e o
sucesso. Informados sobre a aquisição
das sementes e forma de plantio, resolveram encarar a empreitada.
Passados
alguns meses, Dr. Gil colheu mais de dez mil quilos de sementes e a lavoura dos
vizinhos do bairro parecia um jardim verde e amarelo. Os carros paravam na
beira da estrada e seus ocupantes ficavam admirados com a beleza da lavoura.
Certa noite, ao encerrar o expediente, Dr. Gil foi procurado por uma comissão
de vizinhos com a pergunta: “O que o
senhor fez com a colheita dos girassóis?” O engenheiro respondeu com outra:
“Por quê?” “Porque nós vimos o senhor
plantar e resolvemos plantar também, agora, temos que colher e vender o produto
para recuperar o investimento.”“Bom!”. Exclamou
Dr. Gil e acrescentou: “Estou com semente até o teto do depósito. Fiz a
minha lavoura, para dar de comida aos papagaios de Campos e Atafona, agora ,
vocês decidam o que fazer com a sua. Boa noite!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário