Íamos para Piedade, pois lá estudávamos. Foi uma manhã de imagens que insistiam em se fixar em minha cabeça. A concentração às vezes se perdia com a invasão delas. Mas uma não existia naquele cenário: a do outro veículo. Que coisa intrigante, pensava. Será que alguém é capaz de ser ator numa colisão e se ausentar, tendo a noção do estrago, principalmente quando se está numa situação de vantagem - se é que há -, tipo alguém de carro e outro de moto, de bicicleta, ou pior ainda: um atropelamento? Não são poucos os casos como este que o carioca presencia ao longo de um bom tempo.
Este acidente que tirou a vida do jovem Rafael Mascarenhas me remonta àquele corpo da Avenida Radial Leste anos atrás. A diferença é que Rafael estava acompanhado de amigos, estando assim menos só. O que há em comum entre os dois casos éo fato de os causadores dos acidentes terem se evadido do local, deixando o corpo em frangalhos. Era mais importante fugir do flagrante do que tentar salvar aquela vida.
Um episódio que chama a minha atenção para algumas reflexões. Quantos casos de mortes no trânsito poderiam ser apurados e os responsáveis tido suas penas, se não houvesse o egoísmo próprio da humanidade e a facilidade da corrupção dos que deveriam zelar pela ordem que conduz à justiça? As estatísticas não seriam as mesmas. A impunidade, quanto maior; menor a cautela. Mas não! Policiais corruptos diligenciaram o responsável pelo ocorrido até fazerem um acordo. E, enquanto este acordo era feito, logo após o acidente, nenhum destes estava no local preocupado com a vítima que ainda vivia. Preferiram ir para um canto escuro do Jardim Botânico negociar o silêncio em troca da impunidade. Abandonando a cena do acidente e pouco se importando com nada.
Aos policiais bastavam dez mil reais para que nunca se soubesse o causador do atropelamento. Ao pai do atropelador, a disposição de pagar os mesmos dez mil reais para encobrir o fato ocasionado pelo seu filho. Tudo acertado... amanhã a gente se vê na Praça Mauá.
E lá estavam no outro dia. Os policiais e o pai e irmão do atropelador para os acertos.
Mas eis que a mãe do atropelador ouve no noticiário que o atropelado era filho de Cissa Guimarães e resolve telefonar para o marido. Ao ser informado, passa mal e é amparado pelo filho.
Ora, passou mal por quê? Porque o jovem, aí já morto, era o filho de uma celebridade e a merda ia feder? E se fosse um favelado que costumava atravessar o túnel a pé, por não ter recursos para pagar a passagem de ônibus? Certamente estaria com o seu corpo esperando por familiares e amigos para reconhecimento e JAMAIS o caso seria elucidado. Afinal, sempre haverá corruptos como os dois guardas, o pai e o irmão do motorista - sobre o qual, a bem da verdade, até agora pouco foi dito. Parece-me muito bem protegido. (Vale lembrar o caso do menor envolvido no caso Bruno que, ao que tudo indica, por ser de origem humilde, foi logo posto à disposição da Justiça, provavelmente porque lhe faltava um pai de características ricas, com sobrenome estrangeiro, que se dispusesse a ocultar um filho com o apoio claríssimo da mídia).
Não consigo entender todo o foco voltado para os policiais corruptos e a dor da Cissa.
Afinal, há muito mais para se entender nesse caso: o crime social. Alí, na Praça Mauá, por dez ou mil reais, fosse o morto uma pessoa "comum", jamais se conheceriam os envolvidos. SERIA MAIS UM NÚMERO NA ESTATÍSCA. MAIS UM CASO SEM APURAÇÃO.
É bom parar por aqui, porque as perguntas são tantas que posso pecar por desconhecimento, antecipando juízos de valor. Vamos aguardar os fatos.
2 comentários:
Joca, fiz o mesmo questionamento quando li que o pai passara mal quando soube que era filho de Cissa...quer dizer que se fosse qualquer um, a grana seria paga e ninguém descobriria nada? É muita hipocrisia desse pai...por isso hj temos filhos assassinos....com pais assim, pra que inimigos?
É verdade! A pura realidade. Com estes casos vem à tona pequenas pontas dos jogos de quem tem o "poder" da grana. Mas quando acontece de seus filhos serem as vítimas ficam com cara de santinhos.
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