Que eu não seja o último a fazer poesia sem letras que rasgue o verbo e faça versos na mesa de bar que escancare o coração na praça e deixe transfigurar as caras insanas e amantes de carros e de quatro paredes de vontade de também fazer o mesmo que me chamem de vil!!! porque poesia, além de papel, oliveti ou parker é emoção contida, paixão medrosa. Revolta incubada... antes de escrever lua, que vai rimar com sua e versar a estrofe, senta na rua e, nua, conversa com ela antes de fazer rimar licor com dor, toma um porre pro seu grande amor quebra a cara e perde o pudor de ser só casca eu sou a poesia viva que escreve nu, cru, prostituto, solitário na mesa de bar bêbado e contando as estrelas que cercam a lua na beira do Paraíba, brincando como criança com as lágrimas que caem de mim eu sou a poesia imoral, ousada e anti-social eu sou o bebum... eu sou o puro dos filmes que faz platéias apáticas se assumirem dentro da tela tal qual Rosa... eu sou, só por existir, o xingamento profano; a desordem social a rima mal feita: a poesia que não foi classificada -podada pela censura- no festival, na época da ditadura eu sou a poesia na vida! rompo com os tabus se o meu corpo sofre na cama castigado pela aflição inerte da saudade e da distância dos carinhos das mãos da vida ...enquanto queima a vela que insisto em vê-la presente e, como mais louco ainda, tento ouvir a tua voz no fundo do corredor e suas mãos escorrerem em minha testa e os teus lábios beijarem em consolo e amor o meu olho cego e daí, sair a te procurar realmente eu sou corpo da tua poesia da poesia que escreve... da poesia Vinícius, Quintana, Sant’ana, Goeth, Brecht e Cazuza... Se não há espaço para eu viver assim não há espaço para a tua poesia pra tua poesia de papel!!!...